A Descolonização do Direito Angolano, de Novo

O aspecto mais caricato da recente decisão inglesa de congelamento mundial dos bens de Isabel dos Santos foi termos três personagens não angolanas a perorar sobre determinada norma do direito angolano, o que foi essencial para a decisão. Se é normal que um juiz inglês se debruce sobre uma norma angolana fundamental para a sua decisão, já espanta que as partes (Unitel e Isabel dos Santos), ambas com nacionalidade angolana, apresentem pareceres para sustentar as suas teses sobre direito angolano elaborados por juristas portugueses professores em Portugal. Do lado da Unitel, tivemos Dário Moura Vicente, nascido em Lisboa em 1962, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, especialista em direito civil e comercial, que em nenhuma das suas publicações mais relevantes versa sobre direito angolano. Não há dúvida de que é um dos mais eminentes juristas portugueses, mas o seu conhecimento sobre Angola parece limitar-se à prelecção […]

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Um Novo Contrato Social para a Educação em Angola

Desde a independência, há 47 anos, o país tem experimentado, de forma negligente, modelos para a educação da sua população. Na realidade, por várias razões, não foi ainda possível criar um modelo eficiente. Durante décadas, Angola tem figurado na cauda das listas sobre os sucessos educativos realizadas por organizações internacionais, como por exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. As razões para tal atraso, além da guerra, prenderam-se com a corrupção e a falta de sentido estratégico que dominaram o Ministério da Educação durante vários anos, sobretudo a seguir à paz de 2002, não permitindo que o país arrancasse na área da educação e, em vez disso, colocando o enfoque no dinheiro fácil e nas negociatas paralelas. Contudo, nos últimos anos o discurso mudou, tal como a sensibilidade da actual ministra, que tenta olhar para a educação numa perspectiva estratégica. Como em muitas áreas, notam-se alguns tímidos progressos. […]

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A Universidade do Futuro em Angola: Primeiras Reflexões

O general Paka, antigo oficial superior das Forças Armadas e veterano crítico do estado de coisas a que chegou Angola, deu recentemente uma interessante entrevista em que reflectiu sobre o ensino superior no país. O general reformado afirmou que o sistema educativo tem de começar a privilegiar institutos profissionais e a abandonar a “doutoromania”. “Tanto doutor e engenheiro para ir aonde? Vão trabalhar aonde?”, adiantou, concluindo: “No tempo da minha mãe, você tinha que ter um ofício, saber fazer qualquer coisa, porque o nível de desenvolvimento da economia não precisava de doutor ou engenheiro, isso é falso.” Este é o mote para uma curta reflexão sobre a universidade do futuro em Angola e, sobretudo, para começar a responder à questão essencial: como desenhar um ensino superior angolano que simultaneamente corresponda aos anseios dos jovens e contribua para a prosperidade nacional? Há dois pontos de partida para se dar início ao […]

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Pela Descolonização do Ensino do Direito em Angola

Raramente o Direito é um instrumento de progresso social, assumindo geralmente uma feição conservadora e muitas vezes anacrónica. Basta lembrar que um dos actos fundadores da Revolução Francesa foi retirar aos tribunais comuns qualquer interferência nas actividades administrativas do novo Estado. Temia-se que o conservadorismo do Direito enquistado nos tribunais perturbasse as conquistas da liberdade, igualdade e fraternidade proclamadas pelos revolucionários franceses. Para fazer avançar a Revolução era preciso criar um novo Direito que não estivesse nas mãos dos velhos cultores: juízes, professores ou juristas do Antigo Regime. Em Angola, depois de alguma desconstrução leninista nos primórdios da independência, o Direito rapidamente assumiu a sua vertente regressista e limitou-se a recuperar e imitar o que se fazia em Portugal. Na realidade, o Direito angolano continuou colonizado na sua grande essência. Basta ver os Códigos em vigor ou ler as sentenças mais doutas para se ver que a doutrina citada é […]

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O Fim da Bicefalia: Duas Interrogações

Ao sétimo mês, José Eduardo dos Santos rendeu-se. Não sabemos se é uma rendição incondicional, ou se existem compromissos assumidos pelo vencedor João Lourenço. A realidade é que a bicefalia acabou. João Lourenço vai dominar o partido, como já domina o governo, as Forças Armadas, os serviços de inteligência e segurança, as polícias, a Sonangol, os diamantes, as principais empresas públicas e a comunicação social. Até na Universidade Agostinho Neto já implementou mudanças. Fica a dúvida, mais para a posteridade do que para algum efeito útil, de que alguma vez tenha existido a bicefalia. Será que não foi somente um mero truque propagandístico para garantir o poder absoluto a João Lourenço? Na verdade, vislumbraram-se indícios de bicefalia nas movimentações que antecederam a formação do Executivo após as eleições de Agosto, e também na nomeação dos governadores provinciais. De resto, muito rapidamente João Lourenço tomou as rédeas da sua presidência imperial, […]

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Ensino Superior: O Futuro de Angola em Más Mãos

Conta-se que o ditador Estaline, ao ser confrontado a qualidade superior do exército alemão na Segunda Guerra Mundial, terá dito, referindo-se ao maior número de soldados soviéticos: “A quantidade também é uma qualidade.” Apostava Estaline que para derrotar os alemães bastava lançar vagas de soldados para a frente de combate. Quando a invasão alemã chegou, no Verão de 1941, os milhões de soldados russos foram facilmente cercados e derrotados pela máquina alemã. Só com a ajuda do Inverno e depois de mudar os líderes e os métodos russos, conseguiu Estaline começar a resistir e depois ganhar. A quantidade mal aproveitada foi um desastre épico de morte e incompetência. Vem esta história a propósito do cenário desolador que se vive no ensino superior angolano. É um facto que a quantidade aumentou. No ano final da guerra civil (2002), existiam 12.566 estudantes nas universidades angolanas; em 2011, registavam-se 140.016 (números retirados do […]

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