A Incontestável Dívida Oculta de São Tomé

Américo d’Oliveira Ramos, antigo ministro das Finanças de São Tomé e Príncipe visado no nosso artigo “Angola e a Dívida Oculta de São Tomé”, escreveu uma carta aberta ao Maka Angola e ao seu director Rafael Marques.

Por razões técnicas e de segurança, essa carta não pôde ser divulgada no nosso portal (primeiro, o documento Word que nos foi enviado por Américo Ramos continha ameaça de vírus; depois, foi-nos enviada uma segunda via em imagem, não copiável nem editável, portanto impossível de colocar no portal).

Entretanto, o ex-ministro procedeu à sua ampla divulgação nos meios de comunicação social (ver por exemplo aqui e aqui). Fez bem, pois assim todos tiveram oportunidade de a ler, discutir e comparar com a nossa notícia.

Entendemos que uma carta aberta não é um direito de resposta nos termos legais, pelo que nos sentimo legitimados para lhe responder, até porque, segundo a velha máxima de educação, “toda a carta merece resposta”.

A resposta é curta e simples.

A carta aberta do ex-ministro Ramos não desmente um único facto do nosso artigo. O que faz é especular sobre as motivações por detrás da escrita do artigo, sobre a putativa interferência partidária e outras especulações. A realidade é que os factos estão lá e não há como refutá-los.

Sobre a partidarização de que somos acusados, a óptica do ministro Ramos é distorcida. A questão de haver um “buraco” inexplicado nas contas públicas equivalente a 2,5% do PIB de São Tomé e Príncipe não é monopólio de nenhum partido, é um assunto de Estado. Diz respeito ao governo e à oposição. Se a oposição amanhã se tornar governo, o referido buraco é um problema com que se defrontará e que terá de resolver. Seja o MLSTP, seja a ADI, todos têm uma controvérsia para resolver.

Em Angola, o argumento costuma ser o mesmo. Sempre que existe alguma denúncia factual, tenta-se descobrir forças ocultas por detrás. Durante muito tempo foi a CIA ou o George Soros, agora é o que é. Mas a realidade é que, finalmente, por estes dias, o próprio procurador-geral da República angolano admitiu que foram desviados mais de 100 mil milhões de dólares do tesouro angolano, o equivalente a quase o dobro do PIB de Angola em 2020, quantificado em dólares. Enquanto este saque se verificava, todos arranjaram justificações e se escudaram em acusações espúrias. Mas os factos foram teimosos e aí estão. Por isso, em relação a São Tomé e Príncipe, não vale a pena fingir ou arranjar os bodes expiatórios do costume. O que há a fazer é agir e esclarecer o destino dos 30 milhões de dólares que foram ou não para as contas do tesouro da República de São Tomé e Príncipe.