O Desmentido Mentiroso
Uma empresa brasileira realiza uma sondagem em Angola e surge uma empresa angolana a desmentir que essa sondagem tenha sido feita, apenas e através dos órgãos de comunicação social do Estado, com destaque para o Jornal de Angola.
Parece anedota, e é.
Mas foi o que se passou com a história da sondagem feita pela empresa brasileira Sensus, que, além de colocar o MPLA em minoria nas eleições que aí vêm, apresentou um quadro catastrófico, divulgado pelo Maka Angola, da opinião da população relativamente ao governo do MPLA.
Depois da publicação da sondagem apareceu um tal de consórcio Marketpoll Consulting a desmentir os dados, acusando o Maka Angola de todos os desmandos e mais alguns, e ameaçando com mais processos judiciais, mantendo a táctica do regime de submeter Rafael Marques de Morais à ameaça e à pressão constante de acções judiciais contra si.
A questão é que a Marketpoll Consulting não é uma entidade independente, imparcial ou sequer neutral. É uma sociedade recente, constituída em 23 de Junho de 2015, no Cartório Notarial do Guiché Único da Empresa, por Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, secretário do Conselho de Ministros e membro do Comité Central do MPLA. O director do Departamento para a Política de Quadros e membro do Comité Central do MPLA, Joaquim José Miguéis, também é sócio.
O objecto social da empresa é o planeamento e execução de campanhas, execução de pesquisas, desenvolvimento e produção de materiais de campanhas, entre outros. Facilmente se percebe que é um braço do MPLA para a execução da campanha eleitoral de 2017.
Entre 2003 e 2008, Frederico Cardoso exerceu as funções de director do Gabinete de Coordenação de Estudos e Análises do Comité Central do MPLA, e, de 2004 a 2008, foi, cumulativamente, chefe de gabinete do vice-presidente do MPLA Pitra Neto.
Em 2008, então na qualidade de director da Valleysoft, Frederico Cardoso foi um dos pivôs da fraude eleitoral desse ano, e com isso foi recompensado com o cargo de chefe da Casa Civil do presidente da República. Na altura, Frederico Cardoso também concorria às eleições e conquistou um assento no parlamento.
Esta Valleysoft, da qual Frederico Cardoso era sócio e gestor, formou consórcio com a infame empresa espanhola Indra para a provisão de soluções tecnológicas para o processo eleitoral. O custo inicial do contrato era de 61 milhões de dólares, mas foi logo inflacionado para 200 milhões de dólares.
Não há muito mais que possa dizer-se sobre a promiscuidade deste dirigente do MPLA e das razões de tão desastrada defesa ao declarar a inexistência de um relatório encomendado pelos seus superiores.
Portanto, o que temos aqui é um desmentido mentiroso. Trata-se de Frederico Cardoso, o homem do aparelho e do controlo das eleições do MPLA, a vir, por intermédio de supostas empresas de fachada, negar a sondagem publicada por Rafael Marques de Morais. Não é por se colocarem uns nomes em inglês que as empresas passam a ser credíveis.
Sejamos muito claros: esta Marketpoll é MPLA, é Frederico Cardoso. Os seus desmentidos nem valem o papel em que foram escritos. São apenas fases da ofensiva de propaganda em curso.
Além de se revelar a falsidade deste desmentido por parte de uma empresa de fachada do MPLA, há que averiguar, afinal, por que razão está a Sensus, empresa brasileira, associada a um dirigente do MPLA?
Será que estamos novamente perante as confusões milionárias de dinheiros entre MPLA e o Brasil, que levaram à prisão e condenação de João Santana? João Santana foi o marqueteiro brasileiro responsável pelas campanhas de JES e do MPLA, e devido a lavagem de dinheiro foi condenado a uma pena efectiva de prisão de oito anos pelo juiz Sérgio Moro.
Não podemos deixar de colocar a questão: que dinheiros andam a circular entre a Marketpoll do MPLA e a Sensus brasileira? Haverá aqui outra vez a possibilidade de lavagem de dinheiro?
Se querem processos judiciais, talvez seja de começar a investigar estas relações financeiras que, mais uma vez, se estabelecem para efeitos de campanha eleitoral entre o MPLA e o Brasil.