Motim na Cadeia de Viana: Quatro Mortos, 65 Feridos

O motim ocorrido esta manhã, na cadeia de Viana, causou já quatro mortos e mais de 65 feridos, 30 dos quais em estado grave, segundo fontes dentro do estabelecimento prisional. As fontes oficiais não confirmaram, até ao momento, quaisquer vítimas mortais e reconheceram apenas 52 feridos, dos quais 18 em estado grave, segundo notícia da Angop.

Fonte policial confirmou ao Maka Angola que a maioria dos feridos foi alvejada a tiro, no assalto combinado da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), Polícia da Ordem Pública e serviços prisionais.

“Quando a PIR chegou ao local começou a disparar contra os pés dos detidos. A maioria dos feridos foi alvejada nos pés”, disse a fonte, que preferiu o anonimato.

Um detido, que por razões de segurança o Maka Angola apenas identifica como G., narrou o sucedido.

“A confusão deveu-se ao corte das duas visitas especiais anuais a que os presos têm direito no Natal e no Ano Novo. Este ano, a direcção da cadeia decidiu conceder apenas uma visita a cada bloco de detidos. Por causa da superlotação, nem todos são abrangidos pela visita”, disse G.

Segundo G., ontem, os serviços prisionais permitiram apenas visitas para o Bloco C, dos condenados, mas a maioria destes não foi abrangida. Os condenados reclamaram junto da direcção da penitenciária de Viana, que cedeu às pressões e concedeu hoje uma extensão para as visitas ao Bloco C, ao mesmo tempo que bloqueou as visitas, agendadas para hoje, nos demais blocos.

“Os outros blocos, que deveriam receber visitas hoje, iniciaram uma rebelião por causa disso. Romperam as portas das celas e decidiram dirigir-se ao director para reclamar”.

Outro detido, identificado apenas por P., revelou ao Maka Angola que os guardas prisionais começaram logo a lançar granadas de gás lacrimogéneo para controlar os descontentes, mas estes lançavam de volta as granadas contra os guardas.

Fonte policial afirmou que vários funcionários prisionais desmaiaram por inalação excessiva de gás lacrimogéneo.

Minutos depois surgiram reforços, com uma grande força da PIR , apoiada por helicópteros, canhões de água e brigada canina.

“A PIR cercou a prisão e tentou abrir o portão principal que divide a parte da cadeia dos serviços prisionais para fazer entrar um grande contingente e forçar os presos a entrar para as casernas”, explicou G.

Segundo G., “quando a PIR abriu o portão principal houve um grande fluxo de presos que marchou contra a PIR e estes começaram a disparar contra os pés”.

Fonte policial confirmou ao Maka Angola a estratégia policial de disparo, com balas reais, contra os membros inferiores dos revoltosos. “A maioria dos feridos foram atingidos nas pernas”, revelou a mesma fonte.

G. contou um total de quatro mortos, arrumados por agentes policiais a um canto junto à entrada do portão onde os agentes travaram a tiro a marcha dos presos.

Um terceiro detido, identificado como O., que se encontra em prisão preventiva há quase quatro anos, afirmou ao Maka Angola, por via telefónica, que as causas dos tumultos são mais profundas. “O que aconteceu deveu-se, sobretudo, à sobrelotação da cadeia, má-alimentação, maus-tratos contra os detidos e excesso de prisão preventiva”. Esse detido, a partir de uma outra posição, contou um total de 12 corpos movimentados pela polícia. Não soube explicar se estavam todos mortos ou se alguns ainda estavam vivos ou apenas desfalecidos.

Os feridos foram transferidos para a cadeia-hospital do São Paulo e para o Hospital Militar.

Outro problema com que os serviços prisionais se debatem é o uso permanente de guardas prisionais para prestação de serviços nas residências privadas de dirigentes do Ministério do Interior.

Um documento a que o Maka Angola teve acesso mostra como o ministro do Interior, Ângelo Tavares, para além da guarda oficial, mantém 15 guardas prisionais ao serviço de três das suas residências privadas. O secretário de Estado para os Serviços Penitenciários, José Bamoquina Zau, tem ao seu serviço particular cinco guardas; o director nacional dos Serviços Prisionais, seis; o seu adjunto quatro, e o ex-director nacional dos Serviços Prisionais, Mendonça, continua a beneficiar de quatro.

“Em situação normal, o ministro do Interior, Ângelo Tavares, deveria apresentar a sua demissão. A situação está cada vez pior e ele contribui para isso. Não sabe como resolver essas situações”, explicou fonte afecta à Polícia Nacional.

As Cadeias da Morte

O ano de 2013 foi particularmente trágico para a população prisional. Este é o sétimo motim ocorrido nos estabelecimentos prisionais do país desde o início do ano.

Um total de 15 reclusos evadiu-se do estabelecimento prisional de Viana, a 25 de Junho, após breves tumultos.

A 18 de Outubro, 11 reclusos fugiram do Cadeia da Damba, na província de Malanje, após um motim.

Vários detidos amotinaram-se na Comarca Central de Luanda, a 29 de Outubro. A PIR disparou sobre os amotinados causando vários feridos graves. No dia seguinte, novos tumultos na mesma cadeia, resultaram em dezenas de feridos, segundo notícia da Voz da América.

O Ministério do Interior reconheceu o ferimento de mais de 14 presos, na sequência de um tumulto na Cadeia de Viana, a 1 de Novembro passado.

A 3 de Dezembro, um motim na Comarca Central de Luanda, causado por um prato de comida, causou a morte de 12 detidos, segundo informações avançadas pelos presos, noticiou segundo o Novo Jornal. Os serviços prisionais confirmaram apenas a morte de nove cidadãos e mais de 35 feridos, 15 dos quais em estado grave.

Na província do Uíge, na Cadeia do Congo, um grupo de detidos ateou fogo no interior de uma cela e causou um motim a 9 de Dezembro. A polícia local confirmou publicamente ter alvejado, na perna, um dos detidos. A Cadeia do Congo tem 680 detidos mas tem capacidade para albergar apenas 300 detidos, segundo o Jornal de Angola.

 

 

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