MPLA no Poder: o Acto Final
Quando será que os angolanos vão resgatar a sua liberdade? De que precisamos para animar a consciência colectiva, formar e informar os cidadãos sobre a importância da liberdade na mudança das suas vidas e do país?
É a liberdade de pensar, de compreender, de criar, de agir, de empreender, de amar Angola e os seus povos, de manifestar empatia e solidariedade para com os mais desfavorecidos. É a liberdade de escolha. É a liberdade de discernir entre o bem o mal.
O MPLA, a UNITA e a FNLA representaram a luta armada do povo angolano na conquista pela sua independência, há 49 anos. O MPLA ficou, desde então, com o poder absoluto, e nunca promoveu a liberdade que os angolanos sonhavam obter após a independência.
Sem liberdade, a independência parece pouco mais do que uma prisão a céu aberto para a maioria dos angolanos, ultrajados pela fome, flagelados pelo desemprego, tratados como seres sem dignidade social, moralmente despojados e rejeitados pela forma de gestão do poder.
Com este quadro de roubo da liberdade, de sequestro e tortura da dignidade humana, muitos ainda esperam um toque de magia no seio do MPLA. Porque a visão do angolano foi reduzida à imagem do MPLA e de quem o controla. Não se consegue ver para além do muro dessa prisão.
Pode ser que a sociedade angolana seja surpreendida, finalmente, com passos decisivos para a democratização interna do MPLA, no seu congresso extraordinário em Dezembro próximo. E este seria o acto final do poder absoluto.
O passo fundamental para tal desiderato é a abertura a várias candidaturas à presidência do MPLA no Congresso Ordinário de 2026. Desde a consagração do multipartidarismo em Angola, em 1991, o MPLA já realizou seis congressos extraordinários e quatro ordinários. Portanto, são dez congressos sem concorrência à presidência do partido. É simplesmente antidemocrático. Revela falta de liberdade de escolha. Um partido que não garante a liberdade de escolha da sua liderança é um partido inapto para garantir a liberdade dos cidadãos. É um movimento de opressão.
A democratização interna parece um fantasma que aterroriza a liderança do MPLA. É uma aversão que tem sido inexplicável e com consequências graves para o país, porque não há democracias sem democratas. É tal o medo que, depois das primeiras eleições gerais de 1992, os angolanos nunca mais escolheram o presidente de forma directa. Nessas eleições, o presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos – no auge da sua imagem –, não conseguiu derrotar Jonas Savimbi, o então líder guerrilheiro, à primeira volta.
Na altura, a discrepância de votos obtidos pelo MPLA, nas legislativas, e o seu presidente, José Eduardo dos Santos, nas presidenciais, demonstrou como os eleitores podem votar num partido e escolher um candidato de outra formação política. O MPLA obteve 53,74 por cento dos votos, enquanto José Eduardo foi obrigado a uma segunda volta, com 49,56 por cento dos votos. Por sua vez, com 40,07 por cento, Savimbi obteve mais votos do que o partido por si presidido, a UNITA, que teve 34,10 por cento.
Com a actual Constituição atípica de 2010, o eleitor angolano está praticamente amarrado. É obrigado a votar numa só lista de um partido político, que, por sua vez, em caso de vitória, determina quem será o presidente: o primeiro nome da sua lista concorrente. Ou seja, os partidos políticos são reféns dos seus líderes. Estes até podem ser as figuras mais impopulares do universo. Se tiverem de afundar, afundam primeiro os seus seguidores.
No quotidiano, nota-se de forma transparente e pública quão impopular é o actual presidente do MPLA e da República, o camarada JL. Já exprimimos antes a nossa opinião de que o maior problema do presidente é não saber governar. E temos vindo a reforçar essa opinião: João Lourenço não sabe mesmo governar, e o povo sofre cada vez mais com a sua incompetência. Também não tem a humildade de delegar poderes a cidadãos mais bem preparados e menos viciados na arte de estragar, que o poderiam ajudar a fazer melhor. Angola está em regressão visível.
Mas a responsabilidade maior por este descalabro não é de João Lourenço. É do MPLA, que se mantém no poder há 49 anos. É do colectivo dos seus dirigentes, da solidariedade dos seus militantes, que nada fazem de forma clara e consequente para reverter a situação penosa do país e da maioria das angolanas e dos angolanos. São também eles os feiticeiros que levaram muitos cidadãos a acreditar que era possível governar com recurso a soluções de verdadeira mixórdia, em vez de sabedoria. Empenharam-se em manter cargos, em vez de promover o mérito, em apoiar a inveja contra os outros e em proliferar o vício da maldade.
Vale sempre perguntar se os dirigentes do MPLA não estão cansados de tanta desgovernação, se não sentem vergonha pelo sofrimento inaceitável que o seu governo absoluto tem causado ao povo angolano. Não se sentem incomodados com tanta mediocridade?
Bem se diga que João Lourenço é a figura que mais tem contribuído, desde a sua ascensão ao poder, para destruir a hegemonia absoluta do MPLA sobre a sociedade angolana.
Mas lá está. Destruir o MPLA é uma coisa. Destruir o presente e o futuro de milhões de angolanos é crime contra a humanidade.
Alguém tem de dizer ao presidente do MPLA, o camarada João Lourenço, que deve assumir a honra e a humildade de libertar o seu partido, lançando as bases para a sua democratização interna. As centenas de membros do Comité Central do MPLA têm de poder escolher um líder entre vários candidatos, em vez de agirem sempre como bonecos, levantando as mãos para consagrar a unção de um líder que ninguém sabe por que carga de água lá chegou.
Devemos lembrar como o malogrado José dos Santos decidiu, sozinho, entregar o comando do país a João Lourenço e acabou como vítima da sua própria escolha. O próximo presidente de Angola tem de emanar da vontade expressa dos angolanos e não da imposição de João Lourenço e sua corte. O país é de todos angolanos e a estes deve ser entregue. Evitemos mais confusões.
Esta é a via pacífica e congregadora para que os angolanos possam, finalmente, resgatar a sua liberdade sequestrada pelo MPLA. O Partido tem de entregar a liberdade aos cidadãos, para que estes possam ter uma verdadeira palavra a dizer e participar na construção de um país livre.