JLo em França: os Hábitos de Nababo Permanecem
João Lourenço voou até França, na sua primeira visita oficial à Europa enquanto chefe de Estado. Mal foi eleito, JLo fez uma visita privada a Espanha, onde deu a sua famosa entrevista à agência de notícias espanhola EFE, durante a qual afirmou que queria ser o Deng Xiaoping de Angola. João Lourenço gosta de viajar.
Não surpreende a viagem de JLo a França. São conhecidos os avultados investimentos da petrolífera gaulesa Total, que é a operadora estrangeira n.º 1 em Angola, bem como a mais antiga. Por outro lado, as negociatas entre as elites angolanas e francesas são vetustas, tendo sido expostas, embora sem consequências abrangentes, no famoso caso Angolagate. Aliás, José Eduardo dos Santos, um presidente bastante mais recluso do que JLo, visitou Paris em 2014, onde se reuniu com François Hollande.
Do ponto de vista da política externa, a viagem e as declarações de João Lourenço – segundo as quais “o interesse em sermos membros, de alguma forma, como observadores ou membros de pleno direito, da organização internacional da francofonia, pelo importante papel que joga no mundo, mas muito em particular no nosso continente” – são um forte sopapo nos contorcionismos da diplomacia e da justiça portuguesas, que, mesmo depois de se terem submetido aos desejos de Lourenço no caso Manuel Vicente, se vêem secundarizadas. A lusofonia não se afirma pela submissão ou fraqueza, mas pelo exemplo e carácter.
Se há novidade nesta viagem — e, no fundo, é uma repetição do passado – é a forma como João Lourenço se deslocou a Paris. Não consta que Angola tenha resolvido a sua crise financeira, ou se tenha tornado num potentado árabe, e no entanto João Lourenço viaja como tal.
O avião que utilizou na sua deslocação não pertencia ao Estado angolano, nem à companhia aérea angolana. Aparentemente, recorreu a um avião alugado à empresa Deer Jet. Esta é uma empresa privada chinesa que se dedica aos alugueres da aviação de luxo. O avião de JLo era um Boeing 787 Dreamliner opulentamente decorado pelo francês Jacques Plerrejean (ver fotos do interior aqui).
Não vamos descrever as amenidades que o avião tem, o luxo asiático, o conforto elitista, o design arrojado. Limitamo-nos a informar os nossos leitores de que o aluguer do avião custa € 70.000 por hora. E perguntamo-nos se o Estado angolano ou a sua companhia aérea não têm aviões para levar JLo a Paris.
Sim, Paris é a cidade do luxo, mas JLo não vai a Paris fazer compras e mandar fechar o Faubourg Saint Honoré, como faziam alguns ditadores da francofonia quando queriam comprar vestidos Dior e carteiras Hermès para as suas mulheres e amantes.
JLo foi a Paris anunciar um novo ambiente para o investimento em Angola. No entanto, os fantasmas do passado, a opulência do nababo, repetem-se.
É necessário alugar um avião à China para ir de Luanda a Paris por um preço que possivelmente ultrapassará um milhão de dólares?
Afinal, que sinais, além dos retóricos, quer João Lourenço dar?