Escolas Suspensas para Garantir Afluência a Comício

O governo provincial do Bié suspendeu por três dias a realização das provas escolares do segundo trimestre, que deveriam ter iniciado a 31 de Julho. Segundo directores de escolas contactados pelo Maka Angola, esta medida teve como objectivo forçar os professores e os alunos (a partir dos 14 anos) dos nove municípios do Bié a participarem no comício de João Lourenço, que teve lugar ontem no Kuito, capital do Bié.

“Militantes do MPLA, professores e alunos foram transportados em condições desumanas, em carrinhas de transporte de mercadorias e camiões da Casa de Segurança do Presidente da República, para o comício”, denunciou um alto responsável da educação do município de Nharea.

“As provas decorreriam de 31 de Julho a 11 de Agosto, e depois os alunos teriam uma pausa de duas semanas. Somos obrigados a iniciar as provas a 3 de Agosto, tudo por causa da vinda de João Lourenço”, queixou-se o referido responsável, que preferiu o anonimato por temer represálias.

Na mensagem que antecipou a sua visita, João Lourenço fez a seguinte promessa: “Vamos, em conjunto com a população em geral, os militantes, simpatizantes e amigos do MPLA no Bié, encontrar as melhores soluções para resolver os problemas do Povo Angolano.”

“Estou muito indignado com esta situação, que retarda o desenvolvimento do país”, referiu um encarregado de educação, também com medo das consequências de ser identificado.

E continua: “Enquanto a educação depender das questões partidárias, afectará muito o processo de ensino e aprendizagem. A educação é um sector preponderante de qualquer nação que aspira ao desenvolvimento, e é necessário que essas intromissões do MPLA, que minam a educação, terminem, para o bem do país.”

O Maka Angola sabe que os professores e estudantes provenientes dos outros municípios que não o Kuito foram obrigados a dormir em escolas, sem condições de higiene e alojamento condignas, tratados basicamente como gado.

Já se percebeu que João Lourenço tem de recorrer a expedientes desonestos para falsificar a sua inexistente popularidade. Mas o método está a tornar-se perigoso, e revela que o futuro presidente de Angola não olha a meios para atingir os seus duvidosos fins, já que não hesita em interromper o calendário escolar e em usar o corpo docente e discente para enganar o povo angolano.

Será somente abuso antecipado de poder, ou também um medo incontrolado não se sabe bem de quê?

Camiões transportam professores e estudantes de uma escola em Nharea (ao fundo), forçando-os a encher a plateia do comício de João Lourenço.

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