Corrupção: O que Pensam Realmente os Angolanos?

Uma sondagem encomendada pela Presidência revela que 87 por cento dos cidadãos julgam que as politicas públicas implementadas pelo MPLA não trouxeram quaisquer melhorias para a qualidade de vida dos angolanos; corrupção, a falta de ética e a falta de transparência dos governantes são apontadas pelos inquiridos como as principais causas.

O combate à corrupção tem sido uma das promessas mais veiculadas pelos principais candidatos às eleições de Agosto. Os manifestos e programas de governo dos principais partidos concorrentes, o MPLA, UNITA e CASA-CE, são unânimes em anunciar, com afirmações generalistas, o Estado de Direito para o combate à corrupção através do sistema judicial.

João Lourenço, do MPLA, afirma-se com “coragem e determinação” para combater a corrupção. Promete que todos sairão a ganhar, incluindo os corruptos, e seguirá a linha de José Eduardo dos Santos. Sobre a alta corrupção, que esgota os recursos do País e impede qualquer progresso consistente, nem uma palavra.

Abel Chivukuvuku, da CASA-CE, só precisa de um ano para acabar com a corrupção, conforme o seu apelo inicial de campanha. Nos comícios mais recentes, o candidato aponta para os seus colaboradores e afirma: “Não contem comigo para a corrupção.” Sobre a alta corrupção, nem uma palavra.

Isaías Samakuva, da UNITA, tem um governo sombra com um ministro de Combate à Corrupção. Apesar de fazer algumas investigações, nada se sabe publicamente sobre a sua acção. Ao longo da campanha, tem falado muito em combater a “gasosa”, o “cabritismo”, mas é esquivo quanto à alta corrupção.

Mas o que pensam realmente os cidadãos angolanos sobre este assunto? De que modo é que os angolanos encaram a ética, a moral e a corrupção em Angola? É a isso que responde a sondagem encomendada pela Presidência da República à empresa brasileira Sensus, Pesquisa e Consultoria. Em Angola, para além da Presidência, a Sensus tem prestado serviços ao MPLA e à Sonangol desde 2012. Além do seu rigor metodológico, esta sondagem – que até agora foi mantida na “gaveta” – tem valor acrescido precisamente por ter sido encomendada pelo poder.

O estudo foi realizado nas 18 províncias angolanas, com incidência em cada uma das suas capitais, e abrangeu 9155 indivíduos recenseados como eleitores, “com diferentes níveis de escolaridade e de diferentes classes sociais”.

A pesquisa compreende a percepção do público entre as eleições de 2012 e 2017, e os resultados são altamente negativos para o desempenho do regime. Para a questão “as políticas públicas implementadas pelo governo do MPLA entre 2012-2017 lograram melhorar a qualidade de vida dos angolanos?”, a resposta dos inquiridos é avassaladora. No total, 87 por cento respondem que não. Apenas seis por cento acreditam que as políticas públicas do MPLA melhoraram a vida dos angolanos, enquanto sete por cento não têm certeza de nada.

Por outro lado, perto de metade dos inquiridos (49 por cento) manifestam-se “muito insatisfeitos” com os actos de governação do executivo de José Eduardo dos Santos, no mandato de 2012-2017. Por sua vez, 26 por cento revelam estar insatisfeitos com o referido governo, enquanto 10 por cento consideram a governação como normal. Apenas seis por cento demonstram satisfação com o desempenho do governo, enquanto três por cento estão “muito satisfeitos”, com o regime.

O Maka Angola traz aqui a lume alguns dos resultados do capítulo referente à ética, à moral e à corrupção:

Ética

Questão Sim Não Incerto
1 Angola é um estado com ética? 13% 75% 12%
2 Os governantes devem ser mais éticos? 74% 4% 22%
3 Os governantes angolanos têm moral para governar? 15% 78% 7%
4 As instituições do Estado são transparentes? 11% 79% 10%
5 Os políticos em Angola têm moral e ética? 11% 66% 23%
6 Os governadores são transparentes? 4% 91% 5%
7 Os ministros são transparentes? 8% 83% 9%
8 Os administradores municipais são transparentes? 2% 93% 5%
9 Os deputados são transparentes? 16 % 68 % 16%
10 O vice-presidente é transparente? 6% 79% 15%
11 O presidente é transparente? 7% 81% 12%

Corrupção

Questão Sim Não Incerto
1 Na sua opinião, continua a existir abuso de poder a nível institucional? 58% 28% 14%
2 Na sua opinião, continua a existir tráfico de influência nos sectores públicos e privados? 78% 16% 6%
3 Entre 2012-2017 o governo logrou reduzir as circunstâncias propiciadoras da corrupção?

 

10% 76% 14%
4 Angola é um país corrupto? 63% 26% 11%
5 Os governantes angolanos são corruptos? 89% 6% 5%

Nepotismo

Questão Sim Não Incerto
1 Há excesso de nepotismo em Angola? 84% 9% 7%
2 Concorda com a nomeação de Isabel dos Santos para chefiar a Sonangol? 12% 67% 21%
3 Concorda com a nomeação de membros da família de governantes para cargos públicos? 12% 79% 8%
4 A indicação de pessoas de confiança com base no nepotismo pode ser boa em termos de lealdade política? 16% 75% 9%

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