Um Morto e Vários Feridos em Violenta Repressão Policial

A repressão policial contra a manifestação convocada pelo Movimento do Protectorado Lunda-Tchokwé ontem de manhã, no município do Cuango, Lunda-Norte, causou um morto, vários feridos e dezenas de detidos.

Perto de mil apoiantes do referido movimento concentraram-se na vila de Luzamba por volta das 7h00, para uma marcha em direcção à vila do Cuango, a sede do município. Junto à margem do Rio Mumbe, a barreira policial travou com disparos a progressão dos manifestantes.

Segundo testemunhas oculares entrevistadas por Maka Angola, Pimbi Txifutxi, de 35 anos, foi atingido mortalmente com um tiro no abdómen quando saía da igreja, de bíblia na mão, e caminhava para a cantina do seu irmão, onde trabalhava. O autor do disparo fatal foi identificado pelos manifestantes como sendo João Mazanga, um dos seguranças do chefe de Operações do Comando Municipal do Cuango.

Pimbi Txifutxi faleceu pouco mais de uma hora depois de ter dado entrada no Hospital Municipal do Cuango. A família foi obrigada a transportar o seu corpo para o município de Xá-Muteba, 50 quilómetros a sudeste do Cuango, porque no município mais rico de Angola, em termos de exploração de diamantes em aluviões, não existe uma morgue.

No bairro Camarianga, segundo o secretário adjunto do PRS no Cuango, Alexandre Narciso, os agentes policiais travaram outro grupo de manifestantes também com disparos, um dos quais atingiu o braço direito do menor Nelito Silva Paulo, de 12 anos, filho do soba Mwatchissata.

“Quando o soba foi reclamar ao comando municipal pelo disparo policial contra o seu filho, foi brutalmente espancado com pontapés e coronhadas, na presença do chefe de Operações do Comando Municipal e comandante da 1.ª Esquadra do Cuango, Joaquim Tchilóia”, denunciou Alexandre Narciso.

“O soba, que é do MPLA, veio logo explicar-me como foi surrado pela polícia e como lhe responderam que o filho também era manifestante e estava contra a Polícia Nacional”, continuou Alexandre Narciso.

Maka Angola contactou, por via telefónica, Joaquim Tchilóia, que se limitou a dizer o seguinte: “Houve vítimas na contenção da manifestação. Não tenho mais informações a prestar. Ligue para o comandante municipal, que tem autoridade para falar com a imprensa.”

O comandante municipal não atendeu nem retornou as várias chamadas telefónicas que efectuámos.

Alexandre Narciso indicou ainda que, ao todo, foram detidos 50 manifestantes na vila do Cuango, incluindo Eugénio Xapata, de 57 anos, “que sofreu vários espancamentos”.

Por outro lado, na localidade de Cafunfo, a 50 quilómetros da sede do Cuango, teve lugar, por volta das 8h30, a segunda manifestação dos simpatizantes do Movimento do Protectorado Lunda-Tchokwé.

Três grupos, reunindo mais de mil manifestantes cada, marcharam a partir de pontos diferentes da vila, nomeadamente Terra Nova, Elevação e Bala-Bala.

“Quem iniciou os tiros foi o tenente Zito Cassanje (mais conhecido por Zito Comando), na rotunda do Bebe (o grupo do Bala-Bala). Tinha 12 soldados consigo, que se faziam transportar num Unimog, para travar a população que já tinha ultrapassado a barreira da polícia”, revelou o activista Salvador Fragoso. E continuou: “Primeiro, o tenente começou a romper a concentração dos manifestantes com a viatura Unimog e, nos disparos que os seus tropas efectuaram, atingiram uma senhora [Bela] na perna direita.”

O Movimento do Protectorado Lunda-Tchokwé, uma organização política ilegal, indica, em comunicado anterior à manifestação, que exige “o diálogo com o Governo Angolano para o restabelecimento da Autonomia Lunda-Tchokwé, como a Escócia no Reino Unido”.

Maka Angola tentou, sem sucesso, chegar à fala com José Mateus Zecamutchima, o líder do movimento.

O pedido de manifestação foi endereçado ao presidente da República, José Eduardo dos Santos, no passado dia 13 de Junho.

“A administradora municipal e a procuradoria não aceitaram que a manifestação se realizasse. Eu sou activista dos direitos humanos e também trabalho no PRS. Informei os membros do protectorado que o documento (informação às autoridades sobre a manifestação) não estava bem formulado”, lamentou Alexandre Narciso.

*Actualizado

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