Mães Invocam Espíritos Para Exigir a Libertação de Nito e Dago
O Tribunal Provincial de Luanda recusou, esta manhã, receber uma petição dirigida ao juiz Januário Domingos pelas mães dos presos políticos Nito Alves, de 19 anos, e Francisco Mapanza “Dago Nível Intelectual”, de 27 anos. A razão para tal é o facto de as mães dos activistas afirmarem que vão recorrer aos quimbandas para “nos ajudar a mudar o espírito maligno” do juiz.
Em Março passado, durante as audiências de julgamento dos 15+2, o juiz Januário Domingos condenou Nito Alves, de forma sumária, a uma pena adicional de seis meses de prisão, por este ter afirmado que o julgamento era uma palhaçada.
A 28 de Março, na leitura da sentença dos 15+2, o juiz condenou, também de forma sumária, o activista Francisco Mapanza “Dago Nível Intelectual”, que a partir da audiência insistiu em apelidar o julgamento de palhaçada. Aplicou-lhe uma pena de oito meses de prisão.
Com a recente decisão do Tribunal Supremo, os revús foram libertados no passado dia 29 de Junho, mantendo-se apenas na cadeia Nito Alves e Francisco Mapanza, o décimo oitavo preso político, que passou despercebido do público.
As mães de ambos decidiram empreender uma nova campanha pela libertação dos seus filhos. “Como já não nos ouvem nos tribunais e nos políticos, então vamos recorrer onde temos força”, enfatizou Adália Chivonde, a mãe de Nito Alves.
Na 14.ª secção da Sala dos Crimes Comuns, do juiz Januário Domingos, as mães receberam explicações sobre as razões da recusa de recepção da sua petição.
“Disseram-nos primeiro para ficarmos calmas. Depois disseram-nos que a carta estava muito bem escrita, mas que tinha de ser retirada aquela parte sobre a invocação dos espíritos e a ida ao quimbanda para enfrentar o juiz”, explicou Susana Gomes Makongo Sebastião, mãe de Francisco Mapanza.
“Eles sentiram peso na consciência. Tiveram medo de receber a carta. Nós não queremos mal de ninguém, só queremos a liberdade dos nossos filhos. A funcionária do tribunal estava a dizer-nos que quem invoca os espíritos quer matar, isso não é verdade”, referiu Adália Chivonde.
Susana Sebastião explica: “Os funcionários disseram-nos que o juiz pode nos processar por invocarmos os espíritos e isso pode ter outras consequências e apenas receberão a carta quando retirarmos as referências ao quimbanda. Eu só pergunto: um juiz tem medo de quimbanda?”
A mãe de Francisco Mapanza lamentou as duras condições de cárcere impostas ao seu filho no Estabelecimento Prisional de Viana. “Está proibido de receber comida directamente e a visita só pode ser feita através da rede. Impedem o contacto directo.”
Em defesa do interesse público, Maka Angola publica, na íntegra, a transcrição da carta rejeitada pelo Tribunal Provincial de Luanda.
O activista Francisco Mapanza "Dago Nível Intelectual".
Ao Juiz do Tribunal Provincial de Luanda 14ª Secção da Sala dos Crimes Comuns Lic. Januário Domingos Senhor Juiz,
Somos Mães das raparigas e dos rapazes que o Senhor Juiz condenou injustamente a prisão no falso processo dos 17.
Não percebemos por que razão até ao dia de hoje ainda não libertou os nossos filhos e companheiros Manuel Chivonde Baptista Nito Alves e Francisco Gomes Mapanza “Dago Nível Intelectual”, que V. Excelência condenou por terem dito, durante o julgamento dos 15+2, que o mesmo era uma palhaçada.
Em julgamento sumário, V. Excelência condenou Nito Alves a uma pena adicional de seis meses, e Francisco Mapanza, companheiro de luta dos 15+2, que se encontrava na audiência, a oito meses de prisão.
V. Excelência já deve ter percebido que as suas decisões não são justas, nem são legais.
Não têm já a bênção superior!
Vamos orar e invocar forças superiores, para que lancem sobre o vosso espírito um clarão.
O vosso espírito necessita de libertação. Oraremos, de manhã, de tarde, de noite. Invocamos a Mamã Muxima para a nossa prece.
O Senhor Juiz Januário Domingos, tem de respeitar a liberdade e a dignidade da pessoa humana, tal como todos nós. Se não o faz, só podemos lançar mão dos quimbandas para nos ajudar na nossa tarefa, e invocar todos os entes do mundo, flores e animais, árvores e rios, para nos ajudar a mudar o espírito maligno de Vossa Excelência.
Oraremos, Senhor! Luanda, 4 de Julho de 2016
As mães, signatárias:
Adália Chivonde, mãe do Nito Alves
Susana Gomes Macongo Sebastião, mãe do Francisco Mapanza “Dago”
O juiz Januário Domingos.