A Horrível Banalização do Mal

Hoje dia 31 de Março de 2016, formou-se no parlamento em Portugal a mais maldita das alianças politicas de sempre neste país. PSD, CDS e Partido Comunista Português votaram em conjunto contra uma proposta do Bloco de Esquerda repudiando os julgamentos e sentenças de Domingos da Cruz, Luaty Beirão, Nito Alves e mais catorze jovens angolanos condenados por manifestarem pacificamente o seu desacordo pelo saque da sua terra pela ditadura oligárquica de José Eduardo dos Santos (JES).

O PSD de Passos Coelho, o CDS de Paulo Portas e o PCP de Jerónimo de Sousa tornaram-se cúmplices dos serventuários avençados a peso de ouro pelo regime de JES para o seu trabalho de perpetuar a horrorosa banalização do mal em que se tornou o quotidiano de milhões de pessoas em Angola.

Portas, Passos e os Comunistas são hoje parceiros na repelente expedição neocolonial em que uma parte da finança portuguesa decidiu embarcar. Outra vez diria eu, dando continuidade a uma vocação de cinco séculos. Com o mesmo espírito com que o Infante D. Henrique em 1500 inaugurou o primeiro mercado de escravos de Portugal na cidade algarvia de Lagos para vender os seres humanos que capturava em África. Com a mesma frieza e desapaixonado oportunismo com que Salazar aceitou de Berlim pagamentos por vendas de serviços críticos durante a segunda grande guerra  em barras de ouro espoliado à população judaica que chegaram a Lisboa timbradas com a cruz suástica.

No parlamento em Portugal deu-se hoje, formalmente, continuidade a uma tradição de séculos de espoliação e saque. Este voto do PSD, CDS e Comunistas foi contra o povo angolano. Ignoraram que, tal como no tempo colonial, com o esbulho de recursos dos angolanos se está  condenar milhões de pessoas a uma das mais baixas esperanças de vida de África e a maior taxa de mortalidade infantil do Mundo.

No passado, a ditadura salazarista construiu a narrativa heroica dos descobrimentos para justificar os saques coloniais que duraram cinco séculos. No processo de manter viva essa narrativa sacrificaram nos anos 60 e 70 toda uma geração de jovens numa guerra inglória e infame em que nada se defendeu e se comprometeu até hoje, o futuro de uma série de países.  

O absurdo da situação pode ver-se no facto de já os Beatles cantarem no resto do mundo enquanto Salazar mantinha um campo de concentração político no Tarrafal em Cabo Verde onde tal como José Eduardo dos Santos faz hoje a Domingos da Cruz, Luaty Beirão, Nito Alves e aos restantes jovens, se tentava silenciar vozes que denunciassem o mal. O mal que se banalizava e se ia silenciando comprando consciências com o dinheiro espoliado à custa de vidas humanas.

Não tenho, nem quero ter autoridade para dizer ao povo angolano o que deve fazer. Como português tenho toda a legitimidade para condenar quem em Portugal se aproveita da indignidade de um saque neocolonial. Foi isso que foi hoje feito no Parlamento português

É por isso que o voto de hoje no Parlamento de Portugal é indigno. Os que em Portugal votaram contra os 17 presos políticos já se esqueceram do tempo em que a PIDE silenciava opiniões contra o regime e brutalizava os oponentes. Tal como a polícia política faz hoje em Angola com a cobertura e uma falsa justiça.  Mas a história não para. Angola vai mudar.

O período de monstruosa cumplicidade da finança portuguesa com o saque de Angola vai chegar ao fim. Quando todos nos libertarmos deste neocolonialismo que nos humilha no Parlamento português e que, entre o Palácio da Cidade Alta, em Luanda, e a Assembleia da República, em Lisboa, insulta todo o povo de Angola e Portugal; quando pusermos fim a esta ditadura dos oportunistas, então aí, tal como diz o espiritual americano negro que Martin Luther King invocou no seu discurso do sonho em Washington, aí poderemos todos em Angola e Portugal dizer “aleluia estamos finalmente livres.”

 

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