Isabel, a Princesa-Presidenta?

Nunca tendo acreditado nas fábulas vicentinas (que colocavam Manuel Vicente como sucessor presidencial), sempre me inclinei a crer que o lugar de presidente da República de Angola estava destinado ao filho-príncipe  José Filomeno dos Santos "Zenú".

Eis senão quando, como diz a história, deparo com a bela princesa Isabel a posar ao lado da rotunda Nicki Minaj. O que é que a bilionária dos ovos faz ali? É uma exposição que em nada beneficia a sua imagem enquanto gestora ou businesswoman. Entretanto, percebe-se que a princesa também vai comandar o Plano Director Geral Metropolitano de Luanda (PDGML). Tanto excesso e tanta intervenção vão mais além do que qualquer racionalidade económica. Faz lembrar os versos de Camões: “O mundo todo abarco e nada aperto.”

É do domínio comum que um Trump qualquer ou um oligarca russo gostam de se exibir com as suas pulseiras de ouro, os seus iates e jactos privados ostentando o nome do proprietário gravado a ouro, e outras extravagâncias idênticas. Mas tal não parece ser a cepa de Isabel dos Santos, que cultiva uma imagem razoavelmente discreta, contida e inteligente, pelo menos para uma pessoa fora dos meandros presidenciais.

Ora, o que se tem visto ultimamente é que Isabel vai ocupando cada vez mais espaço público, movimentando-se cada vez mais fora do domínio dos seus negócios. Em simultâneo, Zenú desaparece nas águas pantanosas do Fundo Soberano, que não é nem fundo, nem soberano.

Na realidade, há quase uma presidência bicéfala, em que José Eduardo dos Santos vai passando paulatinamente os seus poderes a Isabel, processo ao longo do qual a princesa se vai tornando presidenta. Neste contexto, percebe-se a foto ao lado de Nicki Minaj em T-shirt e de fitinha na cabeça. Neste contexto, percebe-se que fique a seu cargo a direcção do PDGML, que vai durar 15 anos, esperando-se que acompanhe a entronização de Isabel como presidenta.

Estas medidas de publicitação de imagem, não sei se pensadas por “marqueteiros” brasileiros ou seus empregados portugueses, visam fomentar a popularidade de Isabel dos Santos junto do povo angolano, para a legitimar como presidenta do povo: a mulher de sucesso de mãos dadas com a estrela americana, que por sua vez diz sentir-se motivada pelo sucesso de Isabel. No mesmo sentido vão as disposições tomadas pelo marido consorte, Sindika Dokolo, no sentido do restauro e apresentação de duas peças Mwana Pwo – trata-se de indícios de preocupação pela cultura africana e de preocupação com a afirmação de uma entidade própria, que vai além dos meros negócios.

Portanto, ou há uma espécie de primárias na família presidencial, ou Isabel, que já desempenha o papel de co-presidente da República, rapidamente juntará ao seu estatuto de princesa a ocupação individual da presidência  

 

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