Destemidos: Familiares de Presos Políticos Mantêm Manifestação

As mães, esposas e irmãs dos 15 presos políticos recorreram hoje da decisão do governador de Luanda, Graciano Domingos, que proibiu a marcha organizada para o dia 28 de Agosto, e prometem sair à rua.

“Nós não vamos ficar sentadas à espera [pela libertação] dos nossos filhos. Vamos sair mesmo à rua. É nosso direito”, afirmou Adália Chivonde, mãe de Nito Alves e uma das peticionistas.

“A polícia pode espancar-nos e atirar os cães contra nós, as mães. Na marcha do dia 8 de Agosto, a polícia partiu-me um dedo do pé, desta vez pode partir a minha perna, mas a marcha vai sair”, desafiou.

Na nova petição, recebida hoje pelo gabinete do governador, as promotoras da marcha comunicaram a decisão de “realizar a referida manifestação no dia 28 de Agosto próximo às 15h00, no Largo 1º de Maio [Largo da Independência] mas sem desfile nem cortejo”.

Na sua ordem de proibição, a vice-governadora Jovelina Imperial, em nome do governador, invocou a Lei sobre o Direito de Reunião e de Manifestação com argumentos nunca antes evocados pelo governo provincial.

O documento refere que a lei “estabelece no seu Artigo 5.º limitações ao exercício do direito de reunião e manifestação, em função do tempo, determinando de forma imperativa que ‘os cortejos e os desfiles não poderão ter lugar antes das 19.00 horas nos dias úteis’”.

O governador confundiu manifestação de protesto com cortejo e desfile, apesar de a lei discriminar os procedimentos das manifestações. E assim se proibiu o protesto, previsto para o dia do aniversário do presidente José Eduardo dos Santos.

A marcha das mães, esposas e irmãs dos presos políticos deveria culminar com uma vigília no Largo da Maianga, a pouco mais de dois quilómetros do Largo da Independência.

Todavia, com a alteração formal que introduziram nos planos, as peticionistas esperaram ter “ultrapassado os obstáculos legais que se opunham à realização da manifestação”. Requerem assim “o levantamento da referida proibição de realização da manifestação”.

Assinaram a petição Adália Baptista Chivonde (mãe de Nito Alves), Elsa Caholo (irmã de Osvaldo Caholo), Gertrudes Dala (irmã de Nuno Álvaro Dala), Henriqueta Diogo (esposa de Benedito Jeremias), Marcelina de Brito (irmã de Inocêncio de Brito) e Sara João Manuel (esposa de Nicola Radical).

Estão detidos, no processo dos 15, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, Albano Bingobingo, Arante Kivuvu, Benedito Jeremias, Domingos da Cruz, Fernando Tomás “Nicola Radical”, Hitler Jessia Chiconda “Itler Samussuku”, Inocêncio Brito “Drux”, José Hata “Cheik Hata”, Luaty Beirão, Nelson Dibango, Nito Alves, Nuno Álvaro Dala, Osvaldo Caholo e Sedrick de Carvalho. O capitão Zenóbio Zumba, detido a posteriori por suposta amizade com Osvaldo Caholo, é o prisioneiro político número 16.

Já passaram mais de 60 dias desde que os activistas foram detidos, quando discutiam métodos de protesto não violento (20 de Junho passado).

Na altura, o procurador-geral da República, general João Maria Moreira de Sousa afirmou publicamente que os jovens haviam sido detidos em flagrante, enquanto preparavam um golpe de Estado contra o presidente José Eduardo dos Santos. Desde então, as autoridades político-judiciais têm tido dificuldades em formalizar qualquer acusação contra os activistas.

A 7 de Agosto, o vice-procurador geral da República, general Hélder Pitra Grós, manteve encontro com as mães de Nito Alves (Adália Chivonde), Mbanza Hamza (Leonor João), a irmã de Nuno Álvaro Dala (Gertrudes Dala) sobre o processo dos 15. O encontro teve grande publicidade nos órgãos de comunicação social do Estado, sendo aproveitado como golpe de propaganda.

“O tempo, de uma semana, que o vice-procurador nos prometeu para libertar os nossos filhos já passou. Ele disse que haveria luz verde dentro de uma semana. Até agora não estamos a ver essa luz. Parece mesmo que o vice-procurador nos mentiu”, revelou Adália Chivonde.

 

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