Estudantes Angolanos Abandonados pelo Governo na Ucrânia

Na República da Ucrânia, quarenta e seis estudantes bolseiros angolanos encontram-se “no meio do fogo cruzado”, entre os rebeldes pró-russos e as forças governamentais lideradas por Petro Poroshenko, presidente recém-eleito daquele país.

Do total, 24 estudantes frequentam o curso de Economia, 8 o de Medicina e 14 o de Engenharia.

Todos reclamam o pagamento do subsídio de bolsa – 750 dólares mensais -, que não recebem há três meses, e solicitam a imediata transferência para a república vizinha da Rússia, com vista à preservação das suas vidas.  

A Comitiva Angolana em Kiev   Estas reivindicações foram apresentadas formalmente aos representantes do Executivo de José Eduardo dos Santos que, no dia 7 de Junho de 2014, voaram para Kiev, com o objectivo de conhecer as condições em que se encontravam os estudantes. A comitiva angolana foi dirigida pelo chefe do sector estudantil da embaixada de Angolana na Rússia, Fernando Júnior, e por Kafala Neto, director do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE), que reuniram com os estudantes na cidade de Dnepropetrovsk, próximo de Donetsk, local onde muitos estudantes ainda estão refugiados. O Maka Angola conversou com vários estudantes via e-mail e nas redes sociais, mas todos solicitaram o anonimato, por temerem represálias do governo, como o cancelamento definitivo das bolsas. “Foi nessa reunião que nos prometeram o pagamento do subsídio de bolsa, em atraso há três meses, e a evacuação imediata para a República da Rússia”, contaram. “Muitos países que têm estudantes aqui enviaram os seus bolseiros para a Rússia, incluindo a República da Namíbia”, acrescentaram. Desde então, lamentaram os bolseiros, apenas têm ouvido “promessas atrás de promessas”, enquanto “as coisas continuam a ficar mais tensas”, principalmente na cidade de Donetsk.   Estudantes em risco de vida   “A situação está piorando, porque as forças governamentais já conseguiram recuperar as cidades de Slaviansk e Kramatorsk, que eram até então as cidades bastião dos rebeldes”, frisaram. Com o desmantelamento dos bunkers rebeldes nestas duas cidades, a maioria dos separatistas ucranianos abrigaram-se em Donetsk, o que tem causado o abandono da cidade por parte dos habitantes locais. “A cidade em geral está vazia, porque os rebeldes se refugiaram aqui. A pressão aumenta, porque em cada canto se vêem rebeldes armados até aos dentes. Muitas lojas fecharam, e algumas abrem apenas por algumas horas. Nem os multicaixas [multibancos] estão a funcionar”, detalharam. No dia 6 de Julho, os estudantes dos cursos de Economia e Engenharia escaparam à morte por pouco, no momento em que as forças rebeldes entraram na residência das faculdades, exigindo quartos e comida. Até à presente data, alguns estudantes angolanos e outros ocupantes mantêm-se no edifício, pois temem sair à rua. “Estamos no prédio sem ter o que comer. Não saímos à rua, porque temos medo de represálias por sermos de raça negra. Aqui o racismo existe com muita força”, denunciaram os estudantes que se encontram no edifício ocupado pelos rebeldes. Diante deste facto e perante o abandono das autoridades angolanas, os estudantes estão a passar dificuldades financeiras, sem nada para comer, pois dependem unicamente dos subsídios do INAGBE. Desprotegidos e famintos, dia após dia, os estudantes salvam-se como puderem, tentando refugiar-se em cidades próximas, “onde as coisas estejam calmas”. Para muitos, sem dinheiro algum, isso é uma impossibilidade. “Há ainda escassez de bilhetes, tanto de comboio como de autocarro. E nesta altura viajar de autocarro é perigosíssimo”, salientaram.   Licenciados Dependentes de Moscovo   De entre os bolseiros angolanos, existem três recém-licenciados. Segundo o seu testemunho, já receberam os diplomas de formação, mas necessitam agora de os traduzir, para posteriormente os enviarem para Moscovo. “Não conseguimos traduzir os diplomas porque não temos dinheiro, e isto é extremamente importante, porque Moscovo só vai legalizar os diplomas se estiverem traduzidos”, explicaram. A certificação dos diplomas tem de ser feita em Moscovo porque não existe representação legal do Estado angolano na Ucrânia.   Consulado Angolano Tranquiliza   Em resposta aos estudantes, o primeiro-secretário para a Área Consular da Embaixada de Angola na Federação da Rússia informou que têm [a Embaixada de Angola] acompanhado o que se está a passar na Ucrânia, especialmente o estado dos estudantes angolanos. “Nós temos acompanhado com muito cuidado tudo o que se passa na Ucrânia, com alguma particularidade a situação da cidade de Donetsk”, garantiu. Em seguida, o primeiro-secretário reforçou o desejo de retirar os estudantes daquele território. “Estivemos recentemente em várias cidades da Ucrânia, onde reunimos com todos os estudantes, informando-os sobre os passos que a Embaixada de Angola na Federação Russa está a dar para que a retirada deles seja concretizada o mais rápido possível.” Como fundamento para o não pagamento dos meses em falta, o INAGBE e a Embaixada de Angola na Rússia disseram aos bolseiros que seriam retirados da Ucrânia até ao dia 20 de Julho. “Informaram-nos de que já compraram os bilhetes para regressarmos ao país, e por isso não vão pagar mais”, revelaram os estudantes.    

Comentários