O Maior Elefante Branco de África
Pela terceira vez, em nove anos, o presidente José Eduardo dos Santos visitou, a 19 de Fevereiro passado, as obras de construção do novo aeroporto internacional de Luanda.
Desde o início do projecto, em 2005, os custos iniciais da obra passaram de US $300 milhões para US $9 biliões. Segundo a Aid Data, uma organização que tem monitorado os empréstimos da China a Angola, este país asiático concedeu inicialmente um empréstimo de US $450 milhões para o aeroporto.
As obras têm estado a cargo da China International Fund (CIF), uma empresa obscura, criada em 2003, que não tinha construído o que quer que fosse à data da adjudicação da obra. A CIF é conhecida como “a intermediária que obtém os contratos do governo e os vende a outras empresas chinesas por lucros fabulosos”, segundo declarações de um especialista chinês ao World Affairs Journal.
Segundo fonte ligada à obra, o então Gabinete de Reconstrução Nacional, sob comando do general Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa", avançou inicialmente com um orçamento irrisório para a construção do “maior aeroporto de África”, de modo a iludir os membros do governo, do MPLA e da Assembleia Nacional.
O aeroporto foi projectado para receber um tráfego anual de mais de um 1,5 milhões de passageiros, com pistas adequadas a um dos maiores aviões do mundo, o Airbus 380. A obra foi portanto iniciada como a maior realização do processo de reconstrução nacional. Os membros influentes e atenciosos do regime alinharam num coro de apoio incondicional ao projecto. E a sonegação oficial de informação sobre os custos reais passou a ser uma questão de segredo de Estado.
Neste momento, a exorbitância do orçamento estimativo de US $9 biliões, a opacidade das fontes de financiamento e das despesas, bem como os atrasos e a qualidade da obra tornam-na no maior elefante branco de África.
Através de uma revista de imprensa, o Maka Angola estabelece uma cronologia com informações sobre a empreitada disponibilizadas ao público desde 2005 até à última visita presidencial.
9 de Julho de 2005
A 2 de Julho de 2005, o então ministro dos Transportes, André Luís Brandão, dirigiu-se à comuna do Bom Jesus para proceder à apresentação da maqueta do futuro aeroporto internacional de Luanda.
Estava prevista a presença do presidente José Eduardo dos Santos, cancelada à última hora.
A apresentação da maquete, apoiada por um forte aparato militar e policial, foi bruscamente interrompida por camponeses locais, descontentes com a invasão e confisco das suas lavras, sem a devida compensação.
Semanário Angolense notou o silêncio dos órgãos de comunicação social do Estado, presentes no acto, a propósito da manifestação dos populares.
8 de Setembro de 2005
Para contornar o secretismo sobre a construção do novo aeroporto, o Agora entrevistou populares da Comuna de Bom Jesus, circunvizinhos ao projecto, que confirmaram o início das obras em Agosto de 2005.
O projecto, suportado por fundos da linha de crédito da China, na altura, não passou pela aprovação do Conselho de Ministros, segundo apurou o semanário Agora.
Entretanto, um alto funcionário do Ministério dos Transportes, órgão de tutela, quando instado sobre a construção do aeroporto em Bom Jesus, manifestou surpresa. Admitiu que não sabia de nada, e referiu-se apenas à concessão do plano director para o aeroporto internacional de Luanda, cujos custos rondavam os 300 milhões de dólares.
7 de Dezembro de 2005
Persistente, o Agora abordou novamente o assunto. Revelou o desconhecimento sobre a construção do novo aeroporto por parte do então primeiro-ministro, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, do ministro dos Transportes, Luís Brandão, da própria empresa estatal de gestão de aeroportos, a ENANA, e do Instituto de Aviação Civil, órgão que substituiu a Direcção Nacional de Aviação Civil.
O semanário reportou que, para além do desconhecimento por parte dos membros do governo, os deputados aprovaram o orçamento para 2006 sem questionarem a origem dos fundos para a construção da empreitada.
Conforme constatação do Agora, o dossiê do aeroporto, nessa data, era do exclusivo domínio da Casa Militar da Presidência da República, dirigida pelo general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, que acumulava as funções de director do Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN).
15 de Novembro de 2007
O então ministro dos Transportes, André Luís Brandão, foi ao Parlamento, a 15 de Novembro de 2007, reconhecer o atraso das obras do novo aeroporto internacional, de acordo com a Angop.
Segundo o ministro, o atraso deveu-se à (re)avaliação do projecto e à necessidade de captação de recursos financeiros.
23 de Novembro de 2008
O presidente da República visitou, pela primeira vez, as obras de construção do novo aeroporto internacional de Luanda.
Um dos responsáveis do Gabinete de Reconstrução Nacional, António Flores, referiu à imprensa que o projecto, sob construção pela China Internacional Fund, estaria concluído em 2010.
Segundo a Angop, António Flores “comunicou que, neste momento, se está na fase de reformulação do projecto, existindo ainda problemas com a expropriação de 140 famílias residentes na área contemplada pelo empreendimento”.
18 de Outubro de 2011
O presidente José Eduardo dos Santos anunciou na Assembleia Nacional, durante o seu discurso sobre o estado da Nação, a inauguração da primeira fase do novo aeroporto internacional de Luanda em 2012.
“No próximo ano, será concluída a primeira fase do novo aeroporto internacional, em Luanda, cuja fase final terá capacidade para 15 milhões de passageiros por ano”, disse.
22 de Outubro de 2011
Pela segunda vez, o presidente José Eduardo dos Santos visitou as obras do novo aeroporto.
Na ocasião, o ministro dos Transportes, Augusto Tomás, anunciou a conclusão da obra, na sua totalidade, num período de 26 meses, ou seja, em Dezembro de 2013.
O ministro reiterou que a inauguração da primeira fase da construção do novo aeroporto de Luanda teria lugar em finais de Agosto de 2012.
Segundo o ministro dos Transportes, até Agosto do próximo ano (2012) estarão concluídos as obras da torre de controle, edifício da administração aeronáutica, terminal VIP, área dos bombeiros, zona de voos norte e edifício do terminal principal.
O ministro disse à imprensa, de acordo com a Angop, que “a obra decorre a bom ritmo e os prazos estabelecidos serão respeitados”.
Na altura a China International Fund Limited, apresentou, como constrangimentos à execuçãoo da obra a suposta existência de 3,000 famílias no local. O governo, de acordo com as notícias, garantiu que as referidas famílias seriam desalojadas.
15 de Maio de 2012
O Ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, anunciou que a primeira fase da construção do aeroporto deve estar concluída ainda este ano (2012).
19 de Fevereiro de 2014
O presidente da República realizou a sua terceira visita de campo às obras do novo aeroporto.
Segundo declarações do representante da CIF, Ju Litzhao, à imprensa “achamos que a visita do Presidente da República vai permitir que as obras andem mais rápido, porque nós vamos aproveitar para informar todos os constrangimentos desde o financeiro até ao material”.
A conclusão da obra está prevista para 2016.