Violência no Bairro do Paraíso

O Bairro do Paraíso, no município de Cacuaco, em Luanda, foi palco de vários casos de assassinatos, incluindo a morte de três agentes da Polícia Nacional, cujos corpos foram encontrados na madrugada do dia 1 de Junho, e o assassinato de dois dirigentes da UNITA na madrugada do dia seguinte.

Em declarações à VOA, o 2º Comandante da Polícia Nacional em Luanda, Francisco Ribas, disse que os agentes da polícia, identificados como Finda Pedro João, Augusto Gomes Neto e Dário dos Santos Faria, foram mortos com armas de fogo, disparadas por indivíduos não identificados, no seu posto móvel.

Os dirigentes da UNITA António Kamuco e Filipe Chacussanga, respectivamente secretário comunal do Kikolo e inspector municipal da UNITA em Cacuaco, foram mortos a tiro nas suas próprias residências.

A UNITA denunciou a polícia como sendo responsável pela morte dos seus dirigentes. Por sua vez, a Polícia Nacional  negou  qualquer envolvimento nos casos e repudiou as declarações da UNITA como “acusações sem fundamento”.

Entretanto, o chefe do departamento técnico e jurídico da Direcção Nacional de Investigação Criminal, Eduardo Semente, reconheceu ter havido um aumento acentuado de crimes, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Segundo declarações recentes de Eduardo Semente, à Rádio Nacional de Angola, houve um aumento de 35 casos de homicídio voluntário, no primeiro semestre deste ano, comparado com 200, para o mesmo período de 2012.

No bairro, parentes e vizinhos contactados pelo Maka Angola apontam o dedo à Polícia Nacional, dizendo que o assassinato dos dois militantes da UNITA se  tratou de mais um caso de intolerância política. O município de Cacuaco passou a ser conhecido como zona de influência do partido do galo negro depois de este ter conquistado mais de metade dos votos nas eleições de 2012.

“As coisas começaram a complicar-se para os moradores do bairro depois das eleições do ano passado”, disse Paulo Francisco Cunhanga, morador do bairro do Kikolo.

O município, que recebeu nos últimos anos população oriunda do centro-sul e norte do país, apresenta um grande nível de pobreza e uma população maioritariamente jovem.

“Há muitos desempregados, grande parte dos jovens dedica-se a moto-táxis, os vulgos kupapatas, tudo porque a falta de emprego é gritante na zona”, diz Rosa Sebastião, moradora no Bairro Paraíso. “Não minha senhora, prefiro não falar de política, isso trás morte”, responde sem hesitação, com um sorriso no rosto, quando lhe perguntamos sobre os acontecimentos recentes no bairro.

Casos de abusos policiais são frequentes nas ruas de Cacuaco, sendo os kupapatas os mais visados.

“Os kupapatas têm sempre de fugir da polícia, porque na sua maioria são os jovens que vão às actividades da UNITA, e se assumem sem qualquer receio militantes desse partido”, diz Francisco Augusto António, de 53 anos, morador no Cacuaco.

“A polícia está claramente comprometida com o partido no poder, não é possível que até ao momento não tenham vindo falar connosco que somos os vizinhos, como parte da investigação”, disse A. Conceição, uma das vizinhas do falecido secretário comunal da UNITA.

“Nós temos muito medo, a polícia agora não sai do nosso bairro e, às vezes, alguns deles dizem que nós, da UNITA, estamos a matar os polícias. Até as nossas mulheres e crianças já estão a dizer que a guerra vai começar, isso é triste”, afirmou António Chassanha, outro vizinho do falecido António Kamuco.

O porta-voz do Comando Provincial da Polícia de Luanda, subcomissário Aristófanes dos Santos, garantiu aos jornalistas que a polícia tudo está fazer para encontrar os responsáveis, tanto nos casos de homicídio dos três agentes policiais, como dos dois militantes da UNITA.

O município de Cacuaco ocupa 571 quilómetros quadrados e tem uma população de cerca de 926 mil habitantes, na sua maioria oriundos do sul do país, mas também de províncias como Bengo, Uíge e Zaire.

Um outro morador, que acedeu falar ao Maka Angola sob condição de anonimato e que se assume como militante do MPLA, disse não observar qualquer intolerância política no bairro. “Assisto a uma crescente onda de violência num bairro que, até bem pouco tempo, era muito calmo. Não acho que a violência seja só contra os militantes da UNITA”, enfatizou.

Para Pedro Panela, secretário da UNITA para o município do Cacuaco, a intolerância naquele município tem um alvo bem direccionado: “Militantes da UNITA”.

O dirigente partidário mostrou-se igualmente preocupado com o índice de criminalidade registado  no município, nos últimos tempos. “A violência cresceu de noite para o dia, e infelizmente até hoje ainda não sabemos nada da parte da polícia sobre os nossos dirigentes assassinados”, afirmou.

Intolerância Política no Interior

No entanto, em algumas províncias do país, a violência política é mais aberta. Em Maio passado, um militante da UNITA foi assassinado por militantes do MPLA quando se preparava para hastear a bandeira do seu partido, no sector de Cuqueta, no município do Londuimbale, no Huambo.

Em Junho passado, na província da Huila, a tentativa de implantação da UNITA, nas localidades de Kalukembe e Kussava, no município do Chipindo, assim como na localidade do Quê, no Municipio da Tchicomba, produziu confrontos violentos entre militantes do MPLA e deste partido da oposição.

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