Militares na Huíla Votados ao Abandono

Várias unidades militares na Huíla encontram-se em situação de penúria generalizada, o que está a criar mal-estar e descontentamento entre os oficiais e soldados.

Os militares do Batalhão de Reparações do Comando da Região Militar Sul, no
Lubango, queixam-se da falta de condições básicas de alojamento e de alimentação. Os cerca de 400 militares ali destacados são obrigados a partilhar uma dúzia de camas.  Segundo o oficial G.M. os soldados são obrigados a dormir  no chão, “sentados e outros nos carros estragados”.

Outro oficial nota que “não há recursos para dar de comer a metade dos soldados. Os que vivem próximo da unidade têm de fazer refeições nas suas residências”.

Também os instrutores da Escola de Inter Armas do Lubango, destacados no campo
de tiro situado na área da Kilemba, nos arredores da cidade do Lubango, queixam-se das condições na sua unidade. O artilheiro F.M explica como os militares são obrigados a dormir ao relento por falta de condições de alojamento.

O cabo L.R corrobora a queixa. “Estendemos nas casernas as nossas capas. Os meios já nem chegam, não temos colchões nem cobertores para todos. Cama já não se fala.” O militar adianta ainda que os soldados têm de “desenrascar” a sua própria alimentação porque a logística militar é negligente  e deixa os soldados à fome. “Não somos só nós [militares do Batalhão de Reparações], é assim em todas as unidades. O mais triste é quando há prevenção e temos de estar todos nos quartéis”, disse o cabo.

A falta de condições nos quartéis da 5ª Região Militar Sul, particularmente no Lubango, agravou-se com o aquartelamento preventivo que decorreu na primeira quinzena de Junho. A presença da maioria dos efectivos nas unidades demonstrou a incapacidade do exército, a nível local, em prestar abastecimento logístico e condições mínimas de alojamento para os seus efectivos.

“Não temos condições para albergar a tropa. O que fazemos é mante-los em prontidão e fazemos uma escala com o número de pessoas de acordo com as condições existentes na unidade”, explica ao Maka Angola  o oficial M. J. , destacado no Batalhão de Logística da 5ª Região Militar Sul, sobre o procedimento que tem sido adoptado, como regra, para evitar maior descontentamento entre os soldados.

O tenente  general Joaquim Tchiloya, segundo comandante da 5ª Região Militar Sul, tem substituído o general Apolo Felino Yakuvela, comandante daquela unidade, ausente na Argentina, onde se encontra a frequentar o Mestrado em Ciências Politicas.

O exército angolano tem este ano uma dotação orçamental de US$ 5 biliões, a maior de toda a África sub-sahariana. No entanto, em muitas zonas do país onde os soldados usam chinelas por falta de botas e dormem em casernas de pau-a-pique. Em contraste, Angola ostenta alguns dos generais mais ricos do mundo, por via do saque e da corrupção.

O patriotismo dos dirigentes angolanos tem-se limitado a usar as tropas para a defesa do seu poder, abandonando a maioria dos que têm dado o seu sangue, na defesa da pátria e do poder a uma situação de penúria. 

Nota da redacção: Vários soldados e oficiais falaram ao Maka Angola sobre as condições precárias das suas unidades. Embora todos estes efectivos militares tenham assumido  a sua identidade no contacto com o Maka Angola, para protecção dos mesmos, optamos por ocultar os seus nomes e  atribuir-lhes iniciais que não correspondem aos s seus verdadeiros nomes.

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