Yola Araújo Mais Popular que Dos Santos

O MPLA lançou ontem, no Estádio 11 de Novembro, a sua campanha para as eleições de 31 de Agosto, sob forma de homenagem ao seu presidente, José Eduardo dos Santos.
Alguns dos cantores mais populares, como Yuri da Cunha e Yola Araújo, entre outros, tornaram a festa do MPLA numa actividade bastante agradável e atraente para a juventude, que vibrou sobremaneira. Nos últimos anos, os actos de mobilização do MPLA têm sido definidos pela sua habilidade em juntar cantares, beberetes e uma formidável máquina de coacção para obrigar os funcionários públicos a participar.
No entanto, a homenagem ao presidente, para além da fanfarra reportada em directo, pela comunicação social do Estado, com exageros que lembram a imprensa norte-coreana, revelou um dado interessante.
Os militantes do MPLA dedicaram mais aplausos a Yola Araújo e outros cantores do que ao presidente da República e do seu partido, o candidato José Eduardo dos Santos. Fora do estádio, o governador de Luanda e primeiro secretário do MPLA, Bento Bento, usou os seus dons de mobilizador para pedir reiteradas vezes aos militantes para que estes aplaudissem o presidente de forma efusiva. Estes responderam sem entusiasmo. O presidente terá entendido a mensagem e, apesar de ter sido apresentado para falar aos seus apoiantes, apenas lhes dedicou um aceno.
O MPLA havia prometido 500 mil participantes no acto, e ficou aquém dos dez por cento da meta estabelecida, apesar de ter o absoluto controlo da comunicação social, dos recursos do país e do Estado. Após a apresentação do presidente no interior do 11 de Novembro, o “mega acto” de massas que se esperava no exterior não correspondeu às expectativas. Milhares de cidadãos saíram do estádio para os autocarros e não manifestaram qualquer interesse em ouvir a mensagem do presidente. Bento Bento e os mestres-de-cerimónia convidaram, várias vezes, os militantes a permanecerem no local, mas sem sucesso.
Foi um embaraço. Bento Bento e Bento Kangamba anunciaram que o presidente falaria para os apoiantes em vão.
A lição que se pode tirar desta homenagem é a de que a diversão não deve substituir o discurso político. Com a estratégia de usar sempre grandes cantores para atrair multidões, foi criado o hábito de ir aos comícios do MPLA ouvir os cantores e não os políticos. As pessoas vão também pelo churrasco e pela cerveja, e acabam por ignorar as grandes realizações que o governo do MPLA tem anunciado na comunicação social do Estado.
Com Yola Araújo e Yuri da Cunha mais populares do que o presidente, num comício do MPLA, é tempo para dizer que este partido deve rever o seu conceito de comunicação com as massas. Sobretudo, deve acordar para a realidade da mudança de consciência no seu próprio seio.