Isabel: Angola como Potência Mundial da Cerveja

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2015 coloca Angola na cauda de quase tudo. Num universo de 189 países analisados, Angola situa-se na embaraçosa posição n.º 149. O IDH mede o nível de desenvolvimento de um país através do rendimento per capita, das condições de saúde e de educação.

A ONU considera que o desenvolvimento de um país não se mede apenas pela sua riqueza, mas sobretudo pela qualidade de vida das populações. Angola tornou-se uma referência, do ponto de vista económico, durante o período em que alcançou elevadas taxas de crescimento, alicerçadas no preço do barril de petróleo no mercado internacional (entre 2002 e 2008, a taxa média anual de crescimento do PIB foi de 10,1%).

Contudo, apesar deste desempenho francamente positivo, as condições de vida dos angolanos não melhoraram. Esta semana, foi tornada pública mais uma informação perturbadora: de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), apesar de recuar à escala planetária, a malária continua a galgar terreno em Angola, reclamando diariamente a morte de centenas de pessoas.

É um país com carências dessa índole que a filha do Presidente da República quer transformar numa potência mundial de produção de cerveja. Na semana passada, gente ligada a Isabel dos Santos anunciou que a partir do próximo ano se iria lançar o fabrico de uma nova cerveja, a que chamaram Luandina.

Além dessa cerveja, Isabel dos Santos passará a produzir, também localmente, a cerveja portuguesa Sagres. A empreitada terá igualmente início em 2017. É com essas duas marcas de cerveja que Isabel dos Santos pretende disputar a hegemonia de países como a China, os Estados Unidos, o Brasil, a Rússia e a Alemanha.

Há, neste país, gente que morre nos hospitais públicos porque falta aspirina; faltam seringas; falta gaze. Há, neste país, crianças que não estudam porque o preço do material escolar é incomportável para os bolsos dos seus pais. Há, neste país, crianças que levam latas e pedras para a sala de aula para fazerem de carteira. Não se pede que Isabel dos Santos resolva tudo. Ninguém lhe pedirá isso. Mas ser-lhe-ia muito fácil ajudar a mitigar algumas carências: reabilitar a Angomédica; montar uma fábrica de material escolar… Tantas coisas que o dinheiro de Isabel dos Santos pode proporcionar. Mas ela não faz isso, porque tem outro entendimento da realidade angolana. Para ela, a melhoria do ranking de Angola no Índice de Desenvolvimento Humano passa por aumentar brutalmente o consumo de álcool. E, pelos vistos, há quem lhe aplauda as opções.

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