Saúde Precária e Salários em Atraso no Cuango

Mais de 100 funcionários, em regime de contrato e afectos ao Hospital Regional de Cafunfo e a postos de saúde no município do Cuango, estão há oito meses sem receber salários.

“A secção municipal da Saúde [do Cuango] chamou-nos e informou-nos que a falta de salários é um problema nacional, devido à crise. O governo mente que vai pagar, mas não sabe quando”, relatou ao Maka Angola um dos enfermeiros presentes na reunião em Cafunfo.

O enfermeiro, que prefere o anonimato, informa que oficialmente, “no papel”, ganha 68 mil kwanzas, mas que até Dezembro passado “só recebíamos metade”.

O director do hospital, que é cumulativamente director municipal da Saúde no Cuango, recusou-se a prestar esclarecimentos ao Maka Angola, alegando indisponibilidade de tempo.

O Hospital Regional de Cafunfo dispõe de cinco médicos norte-coreanos e um angolano, e dá assistência aos municípios do Cuango, Caungula, Xá Muteba, Lubalo, Capenda Camulemba e Cuilo. Oficialmente, esta unidade de saúde atende uma população superior a 324 mil habitantes, correspondente ao total dos seis municípios. Estes números indicam a existência de um médico por cada 54 mil habitantes.

Com a aproximação da estação das chuvas, quando as epidemias de malária e febre-amarela devastam centenas de vidas na região, os enfermeiros manifestam-se preocupados com o estado de abandono do sistema de saúde no Cuango.

“Não pensamos em fazer greve porque os dirigentes são insensíveis, são desumanos. Vão deixar a população morrer. Nós, enfermeiros, é que aguentamos”, explica um enfermeiro baseado no Hospital do Cuango. Essa unidade hospitalar conta apenas com um médico norte-coreano e 13 enfermeiros, seis dos quais em regime de contrato de trabalho.

O enfermeiro do Cuango, que prefere não ser identificado por receio de retaliações, refere que, para mitigar a situação no Hospital do Cuango, as autoridades servem-lhes, diariamente, uma refeição diária única, que consiste em “massa simples”.

Em ambos os hospitais, os enfermeiros queixam-se da falta de materiais descartáveis básicos, como agulhas, seringas e adesivos, bem como das faltas regulares de electricidade.

Como prova do estado de abandono do sector, a própria direcção municipal de saúde foi recentemente despejada da residência onde funcionava a sua administração, por falta de pagamento de rendas.

Comentários