Banco de Poupança e Crédito: O Corpo da Avestruz

Na sua edição de quinta-feira, 27 de Fevereiro, o Jornal de Angola atribuiu ao embaixador de Angola junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Luís de Almeida, afirmações segundo as quais a imprensa portuguesa estaria a empolar a crise económica em Angola.

“Pedimos que os nossos amigos portugueses, sobretudo a imprensa, deixem de dar esse alarmismo à situação que se vive em Angola”, implorou o diplomata. Minimizar os efeitos da grave crise tem sido, de um modo geral, a estratégia seguida pelo chefe do executivo, José Eduardo dos Santos, e a sua tropa mais fiel. Dir-se-ia que perante uma situação de verdadeiros apuros, cuja origem não pode ser apenas atribuída à queda do preço do petróleo, os governantes angolanos receberam do seu chefe instruções, de cumprimento obrigatório, para seguirem o exemplo da avestruz, a enorme ave de origem africana que enterra a cabeça na areia ao primeiro sinal de perigo.

Aparentemente, contudo, o Governo “esqueceu-se” de incluir o Banco de Poupança e Crédito (BPC) no seu esforço de evitar o “alarmismo”, supostamente para não assustar ainda mais os angolanos e os investidores estrangeiros.

Na mesma quinta-feira em que o Jornal de Angola dava eco às palavras de Luís de Almeida, os clientes e outros utilizadores dos serviços do BPC começavam a viver um verdadeiro inferno: todas as agências do banco, em todo o país, cessaram a prestação de quaisquer serviços, evocando a sempiterna desculpa da falta de sistema. O caso repetir-se-ia no dia seguinte, sexta-feira. Milhares de angolanos procuraram, sem êxito, os serviços do banco: para levantar salários, para pagar emolumentos devidos ao Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, e para muitas outras funções. Nesses dois dias, diante das agências do BPC, assistiu-se a cenas verdadeiramente comoventes: desesperados, milhares de cidadãos vergaram-se perante simples vigilantes do banco, implorando-lhes atenção para os seus dilemas, como se aqueles pobres infelizes pudessem fazer alguma coisa por eles.

Como o desespero é irmão gémeo da irritação, o Governo não pode esperar que os milhares de angolanos angustiados continuem a contemplar apenas com sorrisos nos lábios a abrupta privação dos seus direitos. Por isso, das duas, uma: ou o presidente José Eduardo dos Santos e a sua tropa incluem o BPC na estratégia de “desdramatização” da crise, ou terão de deixar cair a máscara, assumindo que esta crise “veio para ficar”. A primeira opção é aparentemente difícil, já que passaria por rechear os cofres do banco com o dinheiro de que este necessita para cumprir as suas funções.

Mas, para já, excluído do esforço de desdramatização da crise, o Banco de Poupança e Crédito tem vindo a abrir os olhos dos angolanos. É que o velho e desgastado argumento da falta de sistema nem já a mentecaptos convence. Os cofres do banco estão vazios e ponto final! Resta saber até quando e onde os angolanos suportarão mais esse violento atentado aos seus direitos. Aliás, segundo relatos bastante fiáveis, na sexta-feira os responsáveis da agência do BPC no Zango tiveram de solicitar a imediata intervenção de forças especiais da Polícia para conterem centenas de clientes enfurecidos que pretendiam entrar no banco. Talvez este seja apenas o primeiro sinal.

De cabeça enterrada na areia, procurando passar despercebido, o governo angolano não consegue esconder a realidade. A crise está bem à vista, e as suas responsabilidades também.

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