Violência Política em Benguela
Por Nelson Sul D’Angola:
A intolerância política na província de Benguela forçou, na noite passada, o abandono precipitado de sete famílias conotadas com a UNITA. Um total de 31 pessoas partiu da comuna da Capupa para a sede do município do Cubal, onde chegaram ao fim da manhã.
Segundo Paulo Kananga, militante da UNITA, que teve de abandonar às pressas a sua residência, juntamente com a esposa e os três filhos, “o secretário do MPLA na povoação de Cambulo, Deolindo Dumbo, foi à minha casa, armado com zagaia e flechas, enquanto o Sr. Filipe César, do comité local do MPLA, foi de catana na mão, para expulsar-nos da área”.
“Eles foram à minha casa para ameaçar-me de morte, de que as flechas serviriam para mim e a minha família, se continuássemos na área”, explicou Paulo Kananga ao Maka Angola.
Os militantes do MPLA visitaram, com a mesma estratégia e armados, as residências de outros influentes membros da UNITA a nível local.
A 12 de Julho passado, militantes do MPLA atacaram adversários da UNITA com catanas, paus e outros objectos contundentes, tendo estes ripostado com igual violência. Os agressores tentavam impedir a realização de um comício da UNITA e o governador provincial de Benguela, general Armando da Cruz Neto, teve de intervir pessoalmente. Também as forças da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) tiveram de ser destacadas no local para assegurar a realização do evento, a 14 de Julho, e manter a ordem pública.
Com a retirada da PIR, os militantes do MPLA, de acordo com vários depoimentos recolhidos no local, encetaram a caça ao homem, sobretudo na aldeia de Caipumba, onde habitam mais militantes da UNITA.
Outro dos afectados, o seculo (autoridade tradicional) da aldeia de Mutira Wemba, Silva Chimbinguili, viu a sua quinta, com um bananal de mais de mil pés, destruída, com a introdução de gado por militantes do MPLA nas suas terras, nos últimos dias.
Mais preocupante é o facto de 19 dos deslocados serem crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 14 anos, que tiveram de percorrer a pé mais de 40 quilómetros.
A secretária municipal da UNITA no Cubal, Luciana Rafael, condenou as ameaças e referiu que “o nosso adversário [o MPLA] aposta a todo o custo em impedir a implantação da UNITA na Capupa. Depois da actividade de 14 de Julho, optaram pela vingança, e o grau de intolerância tem vindo a subir”.
Por sua vez, em exclusivo ao Maka Angola, o comandante da Polícia Nacional no município do Cubal, o superintendente José Leão, disse que as afirmações dos militantes da UNITA não correspondem à verdade. Segundo o comandante, a sua instituição não registou nenhum acontecimento ou sinais que possam pôr em causa a ordem pública ou resultar em actos de violência contra militantes do maior partido na oposição. “Pela responsabilidade que a UNITA tem, devia no mínimo comunicar às autoridades e à polícia, para podermos averiguar se esta informação corresponde ou não à verdade”, disse o superintendente Leão.
O comandante Leão revelou ainda que a Comissão de Defesa e Segurança esteve reunida nesta segunda-feira, 23 de Julho, e que, das questões passadas em revista no referido encontro, não houve qualquer referência às alegações dos militantes da UNITA. O superintendente Leão afirmou ter tomado conhecimento do caso através do contacto estabelecido pelo Maka Angola.
Aproveitando a ocasião, o responsável da polícia apelou à direcção da UNITA para que comunique à Polícia Nacional quaisquer ocorrências que ponham em causa a vida dos cidadãos, independentemente da sua filiação partidária. O superintendente José Leão apelou também às populações locais para que mantenham a calma e a tranquilidade. “Nenhum cidadão, seja ele militante da UNITA ou do MPLA, estará mais em perigo neste município”, disse.