O Prédio dos Angolanos no Estoril Sol

Nos últimos anos, o novo-riquismo angolano tornou-se lendário em Portugal. Dirigentes angolanos, suas famílias e associados de negócios têm estado a adquirir, nesta parte da península ibérica, alguns dos principais símbolos da opulência local.

Caso paradigmático é o do complexo residencial de luxo Estoril Sol Residence, que compreende três edifícios de uma arquitectura singular e controversa, no Estoril, na orla marítima de Lisboa. O complexo tem dos apartamentos mais caros de Portugal, que variam entre um milhão e cerca de cinco milhões de euros por unidade. O complexo é bem conhecido como o “prédio dos angolanos”, por serem estes os principais clientes do projecto imobiliário inaugurado há dois anos. Na posse de angolanos estão perto de 30 apartamentos.

Numa breve investigação, Maka Angola apurou quem são os abastados angolanos com propriedades no Estoril Sol Residence.

O actual ministro da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, António Domingos Pitra Costa Neto, é dono de cinco apartamentos na Torre Baía, nos 3.º, 5.º, 7.º, 9.º e 14.º andares, estando os primeiros quatro em nome da sua filha Katila Pitra da Costa, estudante.

Tanto no 9.º como no 14.º andar, o ministro Pitra Neto tem por vizinhos o casal Kopelipa. Fátima Geovetty, a esposa do ministro de Estado e chefe da Casa Militar, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, adquiriu dois apartamentos. O fiel escudeiro do general Kopelipa nos seus negócios privados, Domingos Manuel Inglês, fica a meio, no 12.º andar. Ao lado, na Torre Cascais, o principal gestor de negócios um tanto obscuros do general, o português Isménio Coelho Macedo, desfruta da imensa vista para o mar, com um apartamento no 4.º piso.

Outro comprador extraordinário é o ex-ministro das Finanças, José Pedro de Morais, que detém quatro apartamentos, também na Torre Baía, nos 1.º, 2.º, 4.º e 5.º pisos.

Por sua vez, o brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, também portador de nacionalidade angolana, tem um apartamento no 11.º andar da Torre Estoril. Minoru Dondo tem cruzado negócios com o general Kopelipa, José Pedro de Morais, Pitra Neto, a família presidencial e outros influentes membros do regime. A sua formidável capacidade para o tráfico de influências e para a corrupção conferiu-lhe o interessante título de “estrangeiro mais rico de Angola”. Por sua vez, outro brasileiro, associado a Minoru Dondo e a dirigentes angolanos, Gerson António de Sousa Nascimento, é dono de um duplex na Torre Estoril, nos 6.º e 7.º andares.

O sócio e representante legal de alguns negócios de Welwitchia “Tchizé” dos Santos, Walter Virgínio Rodrigues, demonstrou que os negócios lhe têm corrido de feição e comprou um apartamento no 8.º andar da Torre Estoril. Como celebração do contrato multimilionário celebrado entre o Ministério da Comunicação Social e a empresa Westside Investments para a gestão privada do Canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA), a sócia maioritária, “Tchizé” dos Santos, agraciou-o com um bónus de US $500 mil, enquanto a filha do presidente se atribuiu a si própria, com fundos do erário público, o prémio de um milhão e meio de dólares.

Outro angolano que faz parte do selecto grupo de proprietários do Estoril Sol Residence é o antigo director da Endiama, Noé Baltazar.

Apesar dos preços, os angolanos, regra geral, compram vários apartamentos, e de forma ostensiva. Algumas das aquisições levantaram suspeitas junto das autoridades judiciais portuguesas, que, por essa razão, abriram inquéritos. Um dos inquiridos por suspeita de branqueamento de capitais foi o presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro Sobrinho. A 2 de Setembro de 2010, Álvaro Sobrinho adquiriu seis apartamentos no referido complexo, tendo inicialmente pago o valor de 9,5 milhões de euros, segundo investigações do Diário de Notícias. Os seus irmãos Sílvio e Emanuel Madaleno são detentores de outros três apartamentos no Estoril Sol.

Há ainda os angolanos que optaram por usar testas-de-ferro mais discretos na aquisição de propriedades.

Entre o investimento legítimo e o branqueamento de capitais, Portugal continua a ser o destino preferido dos ricos angolanos e a sua melhor lavandaria financeira.

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