Os Gémeos Eduardo dos Santos

No dia 23 de Agosto de 2001, cinco dias antes de celebrar 59 anos, o “gémeo” José Eduardo dos Santos surpreendeu o Comité Central do MPLA e, consequentemente o país, com o anúncio de que o candidato do MPLA às próximas eleições (que se realizariam apenas sete anos depois, isto é, em 2008) não se chamaria José Eduardo dos Santos.

Para convencer a atónita plateia, o “gémeo” argumentou com uma afirmação que ficou para a história: “A minha geração já cumpriu o seu papel. (…) quer elas [eleições] se realizem em 2002 quer em 2003, teremos um ano e meio ou dois anos e meio para que o partido possa preparar o seu candidato para a batalha eleitoral e é claro que esse candidato desta vez não se chamará José Eduardo dos Santos”.

No dia 17 de Novembro de 2011, após celebrar a respeitável idade de 69 anos, o outro “gémeo” José Eduardo dos Santos anunciou perante o primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho, bastante constrangido, que é homem para ir a um ou mais jogos. Isto é, irá até onde as suas muletas lho permitirem e não até onde o rebanho de partidários decidir.

Dos Santos deitou mão a um argumento nada original. Como velho militante do MPLA, segundo a sua afirmação, tem de estar disponível para tudo, inclusive para fazer o “sacrifício” de se auto-revezar indefinidamente no poder.

Nos anos 90, um dos gémeos José Eduardo dos Santos identificou a corrupção como o segundo mal que flagelava Angola – o primeiro era a guerra. Mas, quando os cidadãos lhe exigiam medidas concretas para combater a corrupção, o camarada alegava não ter provas.

Em 2010, rendido às delícias de uma economia de mercado desregrada e à sua incapacidade para controlar a corrupção, o mais velho dos gémeos, muito a contragosto, falou em probidade e em tolerância zero. Mas, ao mesmo tempo que falava e mandava aprovar a respectiva legislação, não parava de guarnecer os bolsos da sua prole e arredores, de tal sorte que uns e outros se tornaram hoje, e num piscar de olhos, nos mais ricos de África. Moral da história: além de traços genéticos e biológicos comuns, os gémeos partilham o desrespeito à palavra dada e o apego ao poder.

Por isso é que, quando confrontada com os dois artistas gémeos, a generalidade dos angolanos é tomada por uma cruel dúvida: em qual deles acreditar? Por via das dúvidas, é melhor não acreditar em nenhum. São farinha do mesmo saco. Ou seja, um e outro são a mesmíssima coisa.

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