27 de Maio: o Sobrevivente de Um Pelotão de Fuzilamento

“Há uma grande verdade no ditado popular que afirma: “Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima.” Hoje é dia 27 de Maio. Alguns dos anciãos que guardam testemunhos importantes para o arquivo histórico que se deve criar sobre o massacre de 1977, há 45 anos, têm caminhado para a eternidade, e assim levam consigo conhecimentos e bibliotecas únicas, que desaparecem para sempre. Em 1995, ávido de conhecer a história contemporânea da Angola, transmitida oralmente por alguns dos seus protagonistas, tive o privilégio de ouvir o testemunho pessoal de dois nacionalistas, Joaquim Pinto de Andrade e Domingos Coelho da Cruz, sobre a história angolana de que fizeram parte. Estes dois amigos juntavam-se muitas vezes no café do Centro de Imprensa Aníbal de Melo, para uma conversa de fim de tarde. Algumas vezes, Joaquim Pinto de Andrade pedia-me que o acompanhasse, a pé, até ao edifício onde residia, na […]

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Manifestante da Vigília do 27 de Maio Detido e Torturado

Emiliano Catumbela, um dos manifestantes da vigília de 27 de Maio abortada pela Polícia Nacional à bastonada, continua detido e encontra-se na 19ª Esquadra, unidade no Catintom, Bairro Rocha Pinto, no município de Maianga. O presidente da Associação Mãos Livres, Salvador Freire, que é um dos advogados de Emiliano Catumbela, tem tentado avistar-se com ele, sem sucesso, desde terça-feira, dia 28. Salvador Freire localizou o seu cliente ontem, ao fim da tarde, na unidade policial de Catintom, onde o detido foi interrogado sem a presença do seu advogado. Em declarações ao Maka Angola, o advogado adianta que, até ao momento, continua a ser-lhe negado o acesso ao seu constituinte. Emiliano Catumbela deveria ter sido presente a um juiz ontem, 29 de Maio, sob acusação de ofensas corporais, com o processo Nº5618/03-02, mas na Procuradoria-Geral da República (PGR) o magistrado devolveu os autos à Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) de […]

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Os equívocos de Manuel Rui Monteiro

Manuel Rui Monteiro fez o que faz bem: escreveu. Mas Manuel Rui Monteiro não é somente um escritor. É um político. Um político, que no tempo de Agostinho Neto foi ministro da Informação. Na altura, o arquétipo de qualquer ministro da Informação de um regime marxista era Lev Mekhlis, o editor-chefe do Pravda soviético nos anos 1930. A informação era uma arma do Estado e do Partido Único para exterminar os “inimigos do povo”, sempre presentes nas retóricas radicais e demagógicas. É com estes dados em mente que devemos perspectivar o texto de Manuel Rui (conforme assina) publicado no Jornal de Angola em 22 de Fevereiro de 2017, sob o título “Poder, justiça e comunicação social“. Logo na abertura do artigo, Manuel Rui acusa a comunicação social de incinerar pessoas na praça pública e de violar o segredo de justiça, obrigando a justiça a condenar quem já foi previamente condenado […]

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É Hora de Verdade e Reconciliação em Angola

Hoje, assinala-se o 45.º aniversário dos terríveis acontecimentos de 27 de Maio de 1977, nos quais o MPLA purgou dezenas de milhares dos seus antigos companheiros de armas. A Amnistia Internacional calcula que pelo menos 30 mil pessoas foram assassinadas. Muitos sobreviventes referem-se apenas ao massacre como “o 27 de Maio”, o dia e o mês que simbolizam acontecimentos indizíveis. A versão oficial divulgada pelo grupo vitorioso do MPLA afirmou que o partido tinha sido forçado a defender-se contra uma tentativa de golpe por parte da “facção” de Nito Alves. Os factos inconvenientes foram enterrados juntamente com as vítimas ou trancados na memória dos executores e sobreviventes. O reinado de terror desencadeado alegadamente contra a ala nitista (e qualquer pessoa a ela ligada) silenciou a dissidência interna durante décadas. Muitos sofreram por “não saber”, muitos dos que foram morrendo ao longo destes 45 anos continuaram torturados pelo desaparecimento inexplicável de […]

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O Enterro de Savimbi

A Comissão Multisectorial para a Exumação, Trasladação e Inumação dos Restos Mortais de Jonas Malheiro Savimbi tinha agendado para 20 de Dezembro passado o enterro do líder rebelde da UNITA, morto a 22 de Fevereiro de 2002. O adiamento do cronograma de acções traçado pela referida comissão levou o presidente João Lourenço, em recente conferência de imprensa, a acusar a direcção da UNITA de atrasar o processo. Muitos angolanos têm notado, desde 1992, a forma como o regime do ex-presidente José Eduardo dos Santos tratou os cadáveres dos seus inimigos importantes, usando-os como um lúgubre trunfo político. Para além de Savimbi, a lista inclui os antigos vice-presidente da UNITA, Jeremias Chitunda, secretário-geral da UNITA, Alicerces Mango, e chefe negociador da UNITA, Salupeto Pena, mortos nos massacres de Luanda, em 1992. Os corpos foram mantidos em local desconhecido, numa prática associada à propaganda política que conferia, entre outros, o título de […]

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João Lourenço: A Corrupção e a Esperança do Povo “Burro”

A espera tem sido um dos maiores desvios da consciência colectiva angolana. O cidadão espera, porque aprendeu a esperar que lhe digam o que deve esperar. Muitos chamam esperança a esta espera em vão. As mudanças não acontecem com espera, mas com participação proactiva. Depois de 38 anos de alienação e rapina sob o comando de José Eduardo dos Santos, temos um novo presidente, e o povo agora tem de esperar, para saber o que deve esperar de João Lourenço (JLo). É demasiada, e acaba por tornar-se num problema básico de cidadania. A verdade é que quem exerce a cidadania não espera, participa. Com extraordinário sucesso, o MPLA manietou os angolanos de tal modo, que estes reconhecem apenas, como supremo, o poder partidário e o do seu líder, e não o poder do Estado, o da cidadania. Não conhecemos o valor de uma sociedade que, de mãos dadas, constrói um […]

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O Estado da Nação e a Burrice dos Angolanos

Excelência, A essa hora deve ser enorme o alívio que sente, depois da expectativa gerada em torno do seu discurso sobre o Estado da Nação. Vários jovens pediram-me para analisar o que julgam já ter sido uma desilusão. Esperaram tanto para nada, e agora lamentam. Ouvi também o Sr. Samakuva, líder da oposição, referir-se ao seu discurso como evidência do seu desconhecimento da realidade. Por sua vez, os seus defensores brindaram a sociedade com análises que levaram as pessoas a tentar, por si próprias, perceber o que se passa na cabeça do presidente. Há ainda os estrangeiros que se surpreenderam com o seu ataque aos Estados Unidos da América. Esses estado-unidenses que tanto esforço têm feito, do ponto de vista político e da saúde dos angolanos, através do programa de luta contra a malária, para serem seus amigos. A malária e a corrupção são as principais causas da morte desnecessária […]

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O General Zé Maria, os Revús e a Intriga do Brandy

Em 1979, o extraordinário general António José Maria “Zé Maria” acusou, em carta, altos oficiais do Estado-Maior General e do Ministério da Defesa  (MINDEF) de terem festejado a morte de Agostinho Neto e profanado a sua memória, enquanto saboreavam um brandy após uma reunião. Na sua qualidade de secretário para os Assuntos Militares do presidente da República, exigiu castigo para os supostos profanadores. Parece que a carreira deste oficial, que durante a Guerra de Libertação Nacional serviu o exército colonial português, tem sido pródiga na execução de purgas, congeminação de intrigas palacianas e invenção de golpes de Estado. Esses actos terão sido de grande utilidade para o reforço e consolidação do poder de José Eduardo dos Santos. Hoje, aos 72 anos, o general é o todo-poderoso chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM). O caso mais recente, que também leva as impressões digitais do general, é o dos […]

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Nome de Nito Alves: O Novo Alvo da Acusação Política de Golpe de Estado

Fernando Baptista foi hoje ouvido de manhã pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) sobre o ensino primário do seu filho, o preso político Manuel Baptista Chivonde Nito Alves, de 19 anos, bem como sobre o seu apelido. “Fui interrogado pelo especialista Pedro João, na presença do superintendente Fernando Recheado. Queriam saber a origem do nome de Nito Alves, onde ele estudou deste a pré-classe até terminar o ensino primário”, disse o pai ao Maka Angola. Segundo Fernando Baptista, o interrogatório teve a duração de uma hora e “baseou-se apenas na questão do nome e onde o miúdo fez o ensino primário”. “O especialista João Pedro perguntou-me também se somos da família do comandante Nito Alves e respondi que não”, disse o pai. O lendário comandante Alves Bernardo Baptista “Nito Alves”, foi fuzilado em Junho de 1977, após o massacre de milhares de cidadãos, pelas forças leais ao então presidente Agostinho […]

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José Eduardo dos Santos Tem Medo de Livros e de “Miúdos”

Um leitor do Maka Angola levanta uma questão pertinente sobre a detenção, a 20 de Junho, de 13 activistas enquanto estes discutiam métodos pacíficos de protesto contra o que consideram ser a ditadura. Dois outros foram detidos nos dias subsequentes, igualmente acusados de tentativa de golpe de Estado em Angola. A maioria desses activistas é conhecida pelas suas tentativas malsucedidas e brutalmente reprimidas de organizarem manifestações antigovernamentais. Mas como é possível – pergunta o leitor – que indivíduos que não conseguem juntar-se em protesto, por mais simbólico que seja, sem serem violentamente reprimidos e detidos, terem capacidade para organizar um golpe de Estado? Porventura cansados de servirem como sacos de pancada para as autoridades e de serem acusados de desorganização por sectores da sociedade civil, os jovens decidiram formar um grupo de estudo. Armaram-se com livros sobre formas pacíficas de protesto para aprenderem a defender melhor as suas ideias. Tornaram-se […]

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