Ataque à Polícia no Funeral de Santa

As autoridades locais apresentavam os seus pêsames aos pais e familiares de Santa Manuel, a menina de 14 anos que foi assassinada no bairro Gika, em Cafunfo. Nesse momento, alguns jovens ergueram o caixão acima das suas cabeças e, quais atletas, correram com ele na direcção contrária à do cemitério, para surpresa de todos os que se perfilavam para a procissão a pé. O cemitério fica a pouco mais de cem metros da residência da malograda.

Em solidariedade para com a família enlutada, o administrador municipal do Cuango, Gastão Cahata, o comandante provincial da Polícia Nacional na Lunda-Norte, comissário Alfredo Quintino Lourenço “Nilo”, o comandante municipal do Cuango, superintendente-chefe André Muaco Benedito, e outras entidades fizeram-se presentes na cerimónia fúnebre. No passado domingo, já o segundo-comandante da 52.ª Brigada das Forças Armadas, Arão Jeremias, tinha também apresentado as condolências à família, assegurando que a justiça será feita.

Ao longo de cerca de 500 metros, os “sequestradores” do caixão arrastaram consigo uma multidão que foi crescendo ao longo da corrida com cânticos de revolta. Pelo trajecto, várias vezes a tampa do caixão saiu do lugar, sem que isso frenasse a corrida, enquanto familiares e outros vizinhos procuravam reaver o caixão.

Os jovens invadiram o posto policial do bairro Gika, enquanto a multidão, incluindo crianças, se municiou de pedras e começou a arremessá-las contra o posto, tendo surpreendido os agentes policiais e os soldados ali destacados.

Em reacção, alguns agentes dispararam para o ar para dispersar a multidão, mas já os portadores do caixão e muitos seguidores se encontravam dentro do posto, onde tentaram abandonar o caixão, enquanto outros tentavam retirá-lo para o enterro. No processo, como testemunhámos, a multidão vandalizou a esquadra, partindo vidros e cadeiras de plástico.

Para evitar mais uma tragédia, o comandante da Segunda Esquadra de Cafunfo, inspector-chefe Felisberto, pediu imediatamente aos seus efectivos para que baixassem as armas, enquanto a multidão continuava a arremessar pedras.

André Lourenço, irmão da vítima, disse apenas: “Sinto-me envergonhado.”

Esta manifestação incontrolada de revolta surge depois de uma adolescente, Santa Manuel, ter sido alvejada no antebraço esquerdo, depois das 22h00 de 29 de Maio, no bairro Gika, em Cafunfo, na província da Lunda-Norte. O autor do disparo, que se encontra detido desde pouco depois do crime, foi identificado como sendo o cabo Joaquim Luís, da 52.ª Brigada das Forças Armadas Angolanas, estacionada em Cafunfo. Santa Manuel morreu às primeiras horas da manhã de dia 30 no Hospital Regional de Cafunfo. A sua morte gerou uma onda de indignação pública.

Segundo Helena António, de 15 anos, e Cristina André Gambia, de 14 anos, que caminhavam com Santa na famigerada noite, vindas de uma cantina onde tinham comprado bolachas, dois jovens passaram por elas a correr.

“Um dos moços, que não conhecemos, disse-nos para corrermos porque estavam a ser perseguidos por um militar. O moço nada tinha a ver connosco. Nós éramos quatro meninas, incluindo a outra Santa, a nossa mais velha de 16 anos”, explica Helena António.

No domingo passado, a multidão que se aglomerou junto ao hospital, em repúdio pela morte da Santa Manuel, também arremessou pedras contra o hospital, tendo removido à força o portão de ferro do recinto para chegar aos dois militares que se encontravam na unidade hospitalar. A porta ao lado do hospital é uma unidade militar, e logo de seguida esta montou um forte dispositivo no hospital e respectivo perímetro, conforme já reportado.

Não há feridos a reportar quanto aos eventos do funeral de hoje.

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