O Voo de Galinha do Jornal de Angola

A galinha, quando levanta voo, não se aguenta mais do que uns metros e estatela-se no chão rapidamente. Ao Jornal de Angola aconteceu o mesmo quando tentou responder ao nosso texto sobre a falsa discussão acerca das autarquias.

Em artigo de 7 de Julho passado, alguém usou a secção de opinião deste jornal para nos responder. Mas a tentativa de refutação despenhou-se mais depressa do que a mencionada galinha a voar.

Exaltava o Jornal de Angola as virtudes de todos se concentrarem “no que de mais útil diz respeito às autarquias”, quando ficámos a saber que os “repórteres correspondentes da Rádio Ecclesia e da Rádio Angola foram expulsos do acto de recepção ao ministro do Território, Administração e Reforma do Estado Adão de Almeida, no município do Bocoio, província de Benguela, onde se encontra na sequência do que denomina processo de auscultação sobre as autarquias”.

Estamos esclarecidos quanto ao que seja a auscultação sobre as autarquias defendida pelos órgãos oficiais, seja o Jornal de Angola, seja a Polícia. É um fingimento em que o ministro discursa para pessoas previamente escolhidas e sem direito a cobertura mediática por parte de órgãos não seguidistas do governo, que são expulsos.

Acresce que boa parte do texto do JA se perde em considerações mais ou menos patetas sobre o autor destas linhas. Nem se percebe bem com que intuito. Aliás, nem se percebem bem as críticas, mas tal deve ser burrice nossa, que não frequentámos as escolas de jornalismo soviéticas que fizeram carreira neste órgão de comunicação. Mas antes burro que tolo.

Contudo, não nos move, e por isso não retorquiremos, qualquer ataque pessoal. O que nos interessa é a cultura da organização. Neste caso, a falta de cultura de diálogo e discussão no Jornal de Angola. O seguidismo e o panfletarismo continuam a ser a marca d’água deste veículo. Não é uma questão de pessoas, é uma questão de estilo. Mudam as pessoas, mas o estilo permanece. E é esse aspecto que denunciamos a propósito das autarquias.

Percebe-se perfeitamente que o processo autárquico está a ser implementado sem qualquer acordo com os partidos políticos representados na Assembleia Nacional, como exigiria um diálogo constitucional não maniqueísta, uma vez que se trata de um tema para várias legislaturas.

Também não é difícil entender que a legislação está a ser desenhada para conferir ao MPLA o controlo do processo. É o MPLA quem decide onde vai haver eleições e quais serão as datas diferenciadas desses escrutínios.

Estes dois pontos são mais do que óbvios para se perceber que as lógicas “Deus e Diabo”, “mal e bem” são as usadas pelo actual governo e maioria legislativa no processo autárquico. Se assim não fosse, não teriam tentado excluir todos os outros do processo essencial de decisão sobre as autarquias. E é isto que o JA não gosta de ver denunciado.

O chamado processo de auscultação que está a ser agora realizado mais não é do que uma voltinha propagandística de demagogia do actual governo, da qual pouco mais resultará além de alterações a vírgulas e detalhes afins. E mesmo assim proíbem-se órgãos de imprensa de participar…

Mais palavras para quê?

Comentários