SOS: Situação Crítica dos Estudantes Bolseiros do INAGBE na Polónia

Já nos tempos em que António Burity da Silva era ministro da Educação, os bolseiros angolanos passavam fome nos países de destino, por não receberem as bolsas.

Nunca se percebeu por que razão o dinheiro não chegava ao seu destino. Na época, o Tribunal de Contas apenas condenou o ex-director do INABE (Instituto Nacional de Bolsas de Estaudos), Domingos Ebo, o ex-chefe da contabilidade, Domingos Joaquim António, e Aníbal Candeeiro, ex-primeiro oficial da instituição, a devolverem dinheiro por terem criado falsos bolseiros.

Passaram-se catorze anos, e os problemas nas bolsas continuam…

Publicamos hoje uma carta que os estudantes bolseiros do INAGBE (Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo) na Polónia dirigiram à directora-geral da instituição, e que já mereceu alguma divulgação pública.

A situação que os estudantes descrevem é degradante e, infelizmente, verifica-se também noutros países além da Polónia, como a Roménia ou Rússia. Também daqui têm chegado queixas de atrasos que impedem os estudantes angolanos de viver com dignidade mínima.

O Maka Angola é um espaço aberto aos temas de interesse público, pelo que está disponível para receber e divulgar as reclamações dos cidadãos da República.

Cabe-nos, portanto, dar sequência ao apelo dos estudantes bolseiros na Polónia: “Estamos a sofrer, Imploramos que o jornal Maka Angola nos ajude a divulgar a nossa história até chegar a entidades responsáveis.”

Na Polónia, há 110 estudantes angolanos, 74 dos quais são bolseiros do INAGBE. Noventa e cinco por cento dos estudantes angolanos frequentam cursos de Engenharia, nomeadamente: Engenharia de Construção Civil, Geologia e Minas, Perfuração de Petróleo e Gás, Informática, Mecânica de Automação e Robótica, Engenharia Química, Mecatrónica, Electrotécnica, Electrónica e Telecomunicação, Engenharia Ambiental, Protecção do Meio Ambiente e Engenharia de Produção. Também há estudantes de Medicina, Arquitectura, Economia, Gestão e Recursos Humanos.

Note-se que os problemas financeiros não afligem somente os estudantes bolseiros do INAGBE. Os 36 estudantes que vivem por conta própria (estudantes não bolseiros) têm também sofrido muitas provações. Embora os seus parentes ou encarregados de educação detenham valores para transferência, não o conseguem fazer, demorando aproximadamente três meses para transferir dinheiro de Angola para a Polónia. Este problema levou a que muitos estudantes que estavam no último ou penúltimo ano dos seus estudos abandonassem tudo e regressassem a Angola. Acresce que a constante desvalorização do kwanza face às principais moedas estrangeiras começa a comportar custos insustentáveis para os estudantes residentes no estrangeiro.

Adiante-se ainda que a situação, neste momento, é tão grave, que se o INAGBE pagar agora um mês de bolsas, tal será inútil, uma vez que as dívidas entretanto contraídas são muito superiores.

Aqui fica então a carta dos estudantes:

CARTA DOS ESTUDANTES ANGOLANOS NA POLÓNIA

“À Excelentíssima Sra. Dra. Ana Paula Tuavange Elias
(MD Directora Geral do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo – INAGBE)
Luanda – Angola

Carta nr. 13 /AEARP.POL/2018

Assunto: Informação sobre a situação crítica dos estudantes bolseiros do INAGBE na República da Polónia e solicitação da intervenção da Vossa Excelência
Sra. Directora.

Respeitosos cumprimentos. A Associação dos Estudantes Angolanos na República da Polónia, vem por intermédio desta carta informar e solicitar a intervenção da Vossa Excelência Sra. Directora, na situação crítica que os estudantes bolseiros do INAGBE na República da Polónia estão a enfrentar. Durante os 5 meses de 2018 e já a caminho do sexto mês do ano, o Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE), fez pagamento de apenas um mês que equivale a $USD 750 (2500 PLN) isso em Março. Visto que, com este valor pagamos tão-somente o aluguel da casa de um mês e o restante usamos para a alimentação no mesmo mês em que nos foi pago.

Actualmente, muitos dos colegas estão a receber cartas com ameaças de expulsões e outros já foram expulsos pelos seus senhorios por atrasos de pagamento, elevadas dívidas e alegadas falsas promessas de pagamento de aluguel de casa. Muitos colegas não podem ser atendidos em hospitais públicos por não possuírem seguros de saúde pago ou actualizado e em contrapartida, não podem ir a clínicas privadas por falta de verbas.

Encontramo-nos na recta final do ano lectivo e ao mesmo tempo numa situação muito difícil. Estamos a perder o controle, os exames se aproximam e muitos de nós temos que andar a pé longas distâncias até a universidade porque não podemos andar de transporte público sem bilhetes para não sermos multados.

Toda vez que entramos em contacto com INAGBE recebemos nada mais que simples promessas de pagamento ou nos pedem que tenhamos calma e paciência. Acredito que, todas estas dificuldades que estamos a enfrentar pode vir a intervir directa ou indirectamente no desenvolvimento e aproveitamento académico dos estudantes. Razão pela qual, venho mui respeitosamente solicitar a intervenção da Vossa Excelência Sra. Dra. Ana Paula Elias neste assunto tão delicado que muito aflige a comunidade estudantil na República da Polónia.

Sem mais assunto de momento, agradecemos a atenção e enviamos os nossos votos de elevada estima e consideração.
Pelo que,
Esperamos Deferimento.

ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDANTES ANGOLANOS NA REPÚBLICA DA POLÓNIA,
Cracóvia, aos 15 de Maio de 2018.
Respeitosamente
Ernesto Bumba
Presidente da A.E.A.R.P”

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