Dino Pistoleiro: O General do Faroeste

No âmbito do julgamento que corre em Paris perante o Tribunal Arbitral da Chambre de Commerce International, que opõe a PT Ventures (antiga Portugal Telecom) à Vidatel (empresa que assegura a participação de Isabel dos Santos na Sonangol), e que temos vindo a reportar, teve lugar a inquirição ao general Leopoldino do Nascimento, na qualidade de membro do Comité de Acompanhamento da Unitel, bem como a inquirição a outros intervenientes acerca do papel do general angolano.

A postura do general Dino durante o seu depoimento denota um absoluto sentido de impunidade, recorrendo quer ao embuste, quer à coacção como formas elementares de gestão.

No depoimento directo do general Dino é interessante constatar a leveza dos seus argumentos. Mais uma vez, tal como Isabel dos Santos, nunca assume responsabilidades e, quando confrontado com factos de que não gosta, afirma que se trata de erros dos serviços. No caso de Dino, o erro é do departamento de marketing; Isabel, por sua vez, endossa responsabilidades aos advogados e contabilistas.

A questão que irritou Dino e o levou a responsabilizar outros por alegados erros foi a ligação da Cochan, a sua empresa, à Unitel. Quando questionado acerca da natureza da relação entre a Cochan (empresa detida por Dino) e a Unitel, o general negou a existência de qualquer relação. E partiu para o ataque, lembrando que estava ali para falar da Unitel e não da Cochan, e que uma nada tinha a ver com a outra. Contudo, os advogados inquiridores mencionaram o website da Cochan, que refere a Unitel como sendo um investimento estratégico daquela. Se a Cochan diz que investe na Unitel, e se o general é o dono da Cochan, como pode dizer que não há qualquer ligação? Mas Dino não se atrapalhou. Respondeu que o que está escrito no website da Cochan está errado, que se trata de um erro do departamento de marketing. O general é dono de muitas empresas, tem muitas pessoas a trabalhar para si, e por isso não controla tudo. Escusa-se, então, neste caso, com um mero erro do seu pessoal, e reafirma que não existe qualquer relação, recusando-se a falar da Cochan.

Mais interessante ainda é o depoimento de João Pedro Baptista, que foi CEO da PT Ventures entre 2006 e 2008, altura em que estava ao rubro a hostilidade do grupo que dominava a Unitel (Isabel dos Santos e Dino) contra a PT. João Pedro Baptista completou um MBA na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mas não estava habituado às práticas do faroeste americano. Ora vem encontrá-las em Angola.

Conta Baptista que foi recebido no escritório do general Dino, em Luanda, em 2006 ou 2007, para uma reunião cujo propósito era encontrar um ponto de comunicação entre a PT e os outros accionistas da Unitel.

Dino apresentou-se fardado de general e armado com uma pistola. Intimidante. Quando se sentou, retirou a pistola do coldre e colocou-a em cima da secretária. Naturalmente, ao ver a pistola em cima da secretária, com o cano virado para si, João Pedro Baptista só quis sair dali o mais depressa possível, sentindo-se coagido.

O caso é paradigmático: foi assim, através de coacção e embustes, que Isabel dos Santos e o general Leopoldino do Nascimento fizeram o que quiseram da Unitel.

Quando Dino foi confrontado com as declarações de João Pedro Baptista, limitou-se a encolher os ombros e dizer que Baptista tinha problemas mentais e devia ser tratado.

A questão fundamental com estas pessoas, seja Isabel, seja Dino, é que se habituaram a fazer o que queriam, sem travão, sem controlo, e agora, quando confrontados com factos, fogem deles e inventam histórias frágeis em que só imbecis acreditam. Não se lembram, não sabem, a culpa é do contabilista ou do marketing, os interlocutores são malucos.

E, na verdade, é esta atitude de completa negligência e falta de racionalidade que explica o atraso de Angola. Os “empresários” não o são. São meros aproveitadores de benesses e ofertas, sem capacidade para gerir uma empresa ou esgrimir um argumento.

Arrogância, soberba e desumanidade. Estamos fartos!

Comentários