Fraude em Directo

Este ano, a arrogância e inépcia do MPLA estão a dar o mais lamentável espectáculo de todos: a apresentação da fraude eleitoral em directo.

Tornou-se perceptível para todas as pessoas que a apresentação dos resultados destas eleições não passa de uma fraude gigantesca e descarada. Razão tinha Estaline: não interessa quem vota, interessa quem conta os votos.

A fraude eleitoral em curso é “transparente” e evidenciada em dois aspectos.

O primeiro é o a cronologia dos acontecimentos. Quem acompanhou a noite eleitoral e as horas seguintes, soube que os primeiros resultados e previsões foram divulgados pela oposição, colocando o MPLA em primeiro lugar – e por isso elegendo João Lourenço como presidente -, mas concedendo a maioria dos votos à oposição. Estas previsões apontavam para um cenário semelhante ao que aconteceu nas últimas eleições legislativas portuguesas passadas, em que o PSD de Passos Coelho ganhou as eleições, mas o PS de António Costa e a esquerda, juntos, ficaram com a maioria no Parlamento.

Ora, é depois destes anúncios da oposição, que o MPLA acelera e declara que terá maioria qualificada (isto é dois terços da votação; 66,6%) e lança a mal preparada porta-voz da CNE para apresentar uns resultados mal-amanhados. Tão mal-amanhados, que a soma das percentagens que apresentou para cada força partidária é superior a 100%! Os números apresentados são:
64.57%+24.40%+8.56%+0.52%+1.37%+0.95% =100.37%

Como se pode confiar numa suposta contagem que nem totaliza 100%?

É evidente que, face aos números que estavam a sair, o MPLA entrou em pânico e apressou-se a lançar uns números alternativos que quase lhe garantissem a maioria qualificada.

E esse é ao segundo aspecto que permite perceber que a contagem está a ser fraudulenta. Alguém acredita mesmo que, depois do desastre que foi a governação do MPLA nos últimos cinco anos, dois terços da população angolana ia votar no mesmo partido? O povo pode não ter instrução, mas não é burro, nunca votaria em massa no MPLA. Portanto, esta história da “maioria qualificada” não tem qualquer credibilidade. É uma fraude completamente desavergonhada.

Andam para aí muitos observadores a falar sobre as eleições e a dizer coisas bonitas sobre o modo como estas decorreram. Não confundamos as coisas. De um lado, tivemos o acto eleitoral, que decorreu genericamente em paz e com civismo. Do lado oposto, temos a contagem e a apresentação dos resultados. Os observadores estiveram nos vários Centros de Escrutínio a acompanhar as contagens? Sabem de onde surgiram os números apresentados pela porta-voz da CNE? Se não sabem, não falem.

Um exemplo da inanidade dos observadores é demonstrada por uma denominada Declaração Preliminar da Missão de Observação da União Africana. Essa Declaração envergonha quem a assina – o antigo primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria das Neves – e coloca em xeque a organização africana. Afirma-se nessa Declaração que “o apuramento dos resultados decorreu nas Mesas de Voto, em conformidade com a lei e na presença dos representantes dos partidos políticos e dos Observadores Internacionais (…). A Missão notou também que, na maioria das Mesas de Voto visitadas, os partidos políticos receberam cópias assinadas das actas dos resultados, sendo que os resultados foram publicados na maioria das Mesas de Voto, depois do apuramento dos resultados”. Estaria tudo certo e o processo eleitoral aparentemente legitimado, não fosse a Missão da União Africana ter visitado apenas 19 assembleias de voto. Ao todo, havia tão-somente 12.152 assembleias de voto. Portanto, faltaram observar 12.143 assembleias de voto. Isto parece uma brincadeira do Senhor José Maria das Neves (antigo primeiro-ministro de Cabo-Verde), mas não é. De uma base de 19, faz uma extrapolação para 12.152! Enquanto isto, quer a UNITA, quer a CASA-CE garantem que os resultados divulgados nada têm a ver com aquilo que foi apurado. E sobre isto, o que dizem os observadores?

 

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