Cimento: Resposta ao Ministro da RDC

Recebi o e-mail do ministro honorário da RDC onde ele, respondendo ao meu artigo do passado 2 de Agosto, nega ter dito que o presidente Eduardo dos Santos o havia incumbido de transmitir ao presidente Laurent D. Kabila o conselho para que perpetuasse a corrupção na RDC. Segundo Irung-a-Wan Noel, essa conversa nunca aconteceu e eu simplesmente inventei-a.

Vejamos os factos:
1)  Como director comercial da FCKS, fiz duas viagens à RDC, sempre em companhia do administrador comercial, o Dr. Tambwe Mukaz. Na primeira viagem, fomos recebidos pelo ministro Irung-a-Wan Noel. E também fomos até ao porto de Matadi, para conhecermos as condições para atracar e cabotar sete mil toneladas de cimento Yetu.

2) Na segunda viagem, que ocorreu em Maio de 2014, fomos novamente recebidos pelo ministro Irung-a-Wan Noel. Desta vez, a missão era assinar o contrato de agenciamento e abrir a conta da FCKS no Standard Bank. Tudo foi concluído com sucesso.

Contra factos não há argumentos. Foi exactamente nesta segunda viagem, no átrio do Hotel Memling, que o nosso anfitrião revelou a conversa que em tempos tivera com o presidente de Angola. Para ajudar o senhor ministro a ultrapassar a sua amnésia selectiva, em nome da verdade, acrescento os seguintes factos que se passaram aquando dessa segunda visita:

1) Depois de Irung-a-Wan Noel ter partilhado connosco as palavras de José Eduardo dos Santos sobre Joaquim David (uma revelação que deixou engasgado o administrador da FCKS), ainda durante um tour pela cidade de Kinshasa, fomos conhecer a casa do ministro.

2) Durante esta viagem de carro, Irung-a-Wan Noel mostrou a casa onde o presidente Kabila Pai foi assassinado. O ministro fez várias revelações surpreendentes sobre ocorrências políticas na RDC que mantenho em segredo.

3) Finalmente, contou-nos que o actual presidente Kabila estava a esvaziar os cofres do Estado para o Ruanda, Tanzânia e o Uganda. Mas, o assunto aqui é o cimento angolano.

Para rematar, sublinho que o senhor ministro era de facto o agente representante da FCKS na RDC e que, se não fosse a intervenção da advogada da FKCS, os donos da Fábrica ter-lhe-iam oferecido o primeiro navio de cimento (esta possibilidade foi aventada numa reunião na sede da empresa, em que participei). Esta “oferta” dar-lhe-ia dinheiro suficiente para comprar os navios seguintes.

Num relatório de viagem de dois membros da direcção comercial da FCKS, consta que Irung-a-Wan Noel recebeu o cimento Yetu por via terrestre, conforme reproduzimos abaixo:

“No passado dia 17 de Outubro de 2014, uma equipa da RDC composta pelos Srs. António Mansambu Kiabokelua e Nicolau Kuanzambi Massaki, deslocou-se à Província do Zaire, concretamente no Luvo.
O objectivo da viagem foi: Dar continuidade ao estudo anterior e fazer a entrega oficial do Yetu ao Sr. Irung-a-Wan.
Assim, estruturamos o relatório na forma seguinte:
I. Entrega oficial do YETU;
II. Determinação do real custo do YETU até LUVO e RDC;
III. Substadia
IV. Dificuldades
V. Considerações
I. Entrega oficial do YETU;
Em função da orientação dos superiores da FCKS, SA, e com vista a testar o processo de exportação via terrestre à RDC, tomou-se a iniciativa de fazer a entrega de dez (10) camiões de Cimento YETU de qualidade CEM I 42.5 N, ao agente IRUNG-A-WAN, por consignação.

Cada camião comportava 750, sacos de Cimento, perfazendo assim um total de 7500 sacos de cimento, ou seja, 375 toneladas.
Os três primeiros camiões de Cimento YETU chegaram na localidade do LUVO no domingo, dia 19 de Outubro e os restantes no dia seguinte.”

Aqui ficam os factos. Duvide quem quiser. E desafio o ministro da RDC a demonstrar que as minhas revelações são mentiras.

Por esta e por outras razões estruturais, a África não progride. Na crise que se vive hoje em Angola e na RDC, homens há que, como Pedro no Novo Testamento, juram negando a verdade. Enquanto tivermos gente deste calibre à frente dos destinos do país, o mal vai continuar a triunfar. Angola e a RDC merecem melhor.

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