Epidemia de Febre Amarela Ceifa Três Irmãos em Cacuaco

Mauro Julião dos Santos, de sete anos, Sofia Julião dos Santos, de cinco anos, e Lucrécia Julião dos Santos, de três anos, todos irmãos, morreram em menos de 24 horas, entre ontem e hoje, levados pelo surto de febre-amarela que invadiu a periferia de Luanda.

A irmã sobrevivente, Natália Julião dos Santos, de um ano, luta pela vida no Hospital Américo Boavida, em Luanda.

Domingos Faustino, tio dos meninos, confirmou ao Maka Angola que as certidões de óbito emitidas pelo hospital confirmam que os três irmãos morreram de febre-amarela e malária.

Os corpos dos três irmãos encontram-se depositados na morgue dos Cajueiros. “Nós não temos caixões para enterrar as crianças. Os pais são desempregados e a família não tem meios”, lamenta a avó, Maria de Sousa.

Em nome da família enlutada, Maria de Sousa apela à compaixão das autoridades: “O governo que nos ajude com os caixões e transporte para enterrarmos as crianças. Pedimos muito.”

A avó refere que o Bairro de Malueca Augusto Ngangula, no município de Cacuaco, “não tem saneamento básico e há muito lixo, águas estagnadas e mosquitos que estão a causar essas doenças”.

De Malueca à vila sede do município de Cacuaco, a circulação de passageiros é feita preferencialmente por camiões, devido ao péssimo estado das estradas de terra batida, num trajecto que demora de meia hora a 40 minutos. Os moradores demoram entre três horas e meia a cinco horas para chegaram ao centro da cidade, em Luanda, e vice-versa, devido às condições precárias dos transportes e aos engarrafamentos.

A casa da família Julião Santos, que perdeu três filhos em menos de 24 horas.

A sobrevivente

“Estamos aqui desde as 6h00, no corredor do Hospital Américo Boavida, à espera de sermos atendidos. Já discutimos com a médica. Não nos atendem, estamos à espera de ser chamados”, reclamou Domingos Faustino, irmão mais velho de Julião Dembos dos Santos, o pai das crianças.

A voz de uma tia interpõe-se ao telefone para informar que a sobrevivente, Natália Julião dos Santos, “já mal reage”. Estão à espera de ser atendidos há 12 horas!

“A médica só viu a criança, disse que é febre-amarela e até agora nada. Só mesmo Deus”, desabafa o tio Domingos Faustino.

O Maka Angola continua a tentar estabelecer contacto com a direcção do Hospital Américo Boavida

A Epidemia

Dados oficiais indicam que, desde Dezembro, mais de 100 pessoas morreram de febre-amarela, tendo sido registados mais de 600 casos.

Segundo informações recentemente comunicadas à agência portuguesa Lusa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) encarregou-se de angariar financiamentos internacionais no valor de US $2.3 milhões para o combate à epidemia.

Esse valor é pouco superior ao que a UNITEL – empresa controlada pela presidente da Cruz Vermelha de Angola, Isabel dos Santos – paga à cantora de “Anaconda”, Nicki Minaj, que actuou em Angola em Dezembro passado.

De acordo com a notícia, a OMS observou “que as autoridades angolanas se debatem actualmente com obstáculos e constrangimentos para assegurar o sucesso desta operação, nomeadamente escassez de material de educação e sensibilização comunitária, recursos humanos, insuficiência de fundos para custos operacionais, incluindo para o transporte de vacinas e das equipas de vacinação”.

Ainda segundo o comunicado da Lusa, a OMS também enviou um grupo de 20 peritos a Angola, com o objectivo de “apoiar o Ministério da Saúde e reforçar as actividades no terreno”.

 

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