Menino Morto por um Golo

Faleceu esta madrugada, no Hospital de Cafunfo, na Lunda-Norte, Adão Abílio da Piedade Xavier, de 12 anos, alvejado na tarde de Sábado com um tiro de pistola no abdómen, por um sargento das Forças Armadas Angolanas.

O sargento Armando Manuel  disparou o tiro em celebração do golo de empate do clube militar 1° de Agosto contra o Kabuscorp F.C.

Tanto o militar como a criança acompanhavam o jogo de futebol através de um ecrã gigante colocado diante de um estabelecimento comercial, na vila de Cafunfo, no município do Cuango, província da Lunda-Norte.

Fonte policial confirmou ao Maka Angola a detenção, esta manhã, do sargento Armando Manuel, da Polícia Judiciária Militar, colocado na 75ª Brigada de Infantaria Ligeira. A mesma fonte, que preferiu não ser identificada, indicou que, após o incidente, o sargento refugiou-se na residência de um colega mas foi mais tarde detido. O representante da família da vítima, Justino Pedro,  foi informado da detenção no encontro que manteve com o comando da referida brigada.

“Os outros soldados estavam a protegê-lo. Depois de alguma pressão, a polícia e o exército realizaram diligências para o prenderem”, explicou o activista local Enoque Jeremias.

Por sua vez, “o comandante da Brigada, o brigadeiro Samucuanha, orientou à sua unidade para cobrir as despesas com o caixão e com o funeral”, disse Justino Pedro, que esteve presente no encontro em representação da família.

Para além do caixão, como apoio à família enlutada, segundo Justino Pedro, o comandante de brigada, Brigadeiro Samucuanha ordenou a entrega de “5 mil kwanzas para o aluguer de uma carrinha, para o enterro; 2 mil kwanzas para combustível; 50 quilos de arroz, 25 quilos de feijão, duas caixas de cerveja, 10 quilos de açúcar, uma caixa de óleo alimentar, 24 latas de ervilha, 24 latas de carne de porco em conserva e 26 pacotes de café”.

Justino Pedro indicou que os familiares “queriam efectuar a devolução dos bens ao exército mas aconselhamos a receber para ver como as nossas autoridades consideram o povo”.

“É lamentável. Aqui temos uma República de Angola, onde vivem os dirigentes e a República do Cuango onde vivemos nós, o povo humilhado. Os nossos dirigentes não têm qualquer vergonha na cara. O objetivo deles é mesmo humilhar-nos, acabar com a nossa dignidade, sobretudo a dos Lunda-Tchokwé”, afirmou o pai, com a voz enrouquecida.

“Os bens que o exército mandou entregar à minha família, pela morte do meu filho, são um insulto, faz parte da política de humilhação. A ordem parte de cima”, continuou o pai.

Maka Angola tentou contactar o brigadeiro Samucuenha, pelo seu terminal telefónico, sem sucesso.

Inicialmente, o pai da vítima e outros activistas indicaram, erradamente, o nome do sargento Droga como o autor do disparo fatal.

Segundo Maka Angola apurou, os sargentos Droga, Armando Manuel e um terceiro conhecido apenas por Zito, formam o triunvirato de antigos comandos hoje colocados na Polícia Judiciária Militar, famosos pelo seu historial conjunto de desmandos na vila de Cafunfo. “Algumas pessoas presentes no local confundiram os nomes dos sargentos, pelo que pedimos desculpas ao sargento Droga e a quem tenhamos induzido em erro”, disse o activista local Enoque Jeremias. 

Comentários