MPLA Paralisa o Cuango para Manifestação Partidária

O MPLA e o governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto Muangala, encerraram hoje, no município do Cuango, as escolas, a função pública, mercados e estabelecimentos privados para garantir um acolhimento de massas ao secretário-geral do MPLA, Dino Matross, que visitou a localidade por algumas horas.
 
Durante o acto partidário que orientou no complexo privado do general Tchiloya, Dino Matross referiu que foi mandatado pelo Bureau Político do MPLA para agradecer à população da Lunda-Norte pela vitória eleitoral do seu partido nessa região.
 
Como parte do procedimento de boas vindas, as autoridades locais organizaram também delegações dos municípios de Caungula, Capenda-Camulemba e Lubalo Xá-Muteba para participarem do evento. Cada município teve de enviar uma quota mínima de 200 pessoas, entre estudantes, funcionários públicos e militantes.
 
Romeu André, integrante da comitiva de Caungula, revelou ao Maka Angola o transporte de grande parte dos populares em camiões militares, de marca Kamaz, afectos à 75 Brigada de Infantaria das Forças Armadas Angolanas.
 
Para o presidente da Associação Mãos Livres, Salvador Freire, “primeiro devemos perguntar quem é o cidadão Dino Matross? Ele é membro do MPLA e não do governo. Mesmo que fosse o Presidente da República, não se devem encerrar escolas, a função pública e estabelecimentos privados para o receber”, explicou o advogado.
 
“Esse acto é ilegal e inconcebível. A cidadania não deve permitir esse tipo de abusos de poder. Estamos a caminhar de forma retrógrada”, denunciou Salvador Freire.
 
Durante semanas, o governador Ernesto Muangala realizou vários actos preparatórios para a visita de Dino Matross a Cafunfo, a principal vila do município do Cuango. O mais marcante, sob iniciativa do Comité Municipal do MPLA, foi o de providenciar conforto antecipado às famílias das camponesas barbaramente assassinadas nos últimos meses naquela localidade.
 
“Uma mamã da OMA [Organização da Mulher Angolana], a ala feminina do MPLA, veio à minha casa chamar-me para ir a uma reunião no Comité do MPLA [Cafunfo]. Fui lá no dia 18 de Agosto e os chefes do comité disseram que tinham bens para apoiar os filhos que perderam as mães”, explicou Viaje Benjamin, de 18 anos.
 
A sua mãe, Alda Sanahana foi morta a 7 de Maio passado. “Afinal, chamaram-me para me entregar 25 folhas de chapa de zinco, um saco de arroz, uma caixa de óleo, um saco de fubá e cinco quilos de sal. Telefonei ao meu irmão mais velho, o Arnaldo, e ele disse-me para não receber nada. Fui-me embora”, explicou Viaje Benjamin.
 
Apesar do aumento dos homicídios de camponesas que se têm verificado na região, as autoridades locais se têm manifestado impotentes ou indiferentes à sua resolução e à protecção das cidadãs. Com base num obscurantismo conveniente, as mesmas autoridades alegam e difundem a ideia que os casos são actos de feitiçaria.
 
O município do Cuango é o centro da zona diamantífera da Lunda Norte, onde têm ocorrido violações sistemáticas e continuadas de direitos humanos. A região continua a ser um foco de grande contestação à política do MPLA e, em Junho passado, mais de 15 mil habitantes de Cafunfo, maioritariamente mulheres, organizaram uma manifestação contra a violência de que têm sido vítimas. O governo, pela primeira vez, empregou as Forças Armadas Angolanas para reprimir uma manifestação, a das mulheres de Cafunfo.

 

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