MISSANG Sabia sobre os Planos Golpistas na Guiné-Bissau
Por Carlos Duarte:
A situação que se vive hoje na Guiné-Bissau não surpreendeu as autoridades angolanas. A Missão Militar de Angola (MISSANG) teve acesso, com bastante antecedência, a informações sobre os planos dos militares guineenses para a subversão da ordem democrática, soube o Maka Angola de fonte segura.
A situação agravou-se depois da eleição presidencial, realizada a 18 de Março último e que obrigou a uma segunda volta entre o primeiro-ministro e candidato do PAIGC, Carlos Domingos Gomes Júnior “Cadogo”, e o líder do PRS, o ex-presidente da República, Kumba Yalá.
Face à iminência de uma vitória de “Cadogo” Jr. na segunda volta das eleições presidenciais, generais das Forças Armadas Guineenses (FAG), supostamente instigados por Kumba Yalá, entenderam inviabilizar o pleito e avançar para um golpe de Estado.
Antes e depois da ida a Bissau do ministro da Defesa de Angola, Cândido Van-Dúnem, generais guineenses fizeram saber aos oficiais dos Serviços de Inteligência Externa (SIE) de Angola que iriam avançar para o golpe de Estado e que tudo o que queriam era que a MISSANG se mantivesse neutra. Os angolanos, segundo fontes guineenses, responderam “nim”. Ou seja, não disseram “sim” ou “não”.
Face aos pedidos insistentes das altas patentes guineenses para que Angola não interviesse, por se tratar de um “assunto interno”, e prevendo que o pior poderia acontecer, há sensivelmente três semanas a MISSANG fez deslocar a Bissau, a capital guineense, meios militares consideravelmente assustadores (armas pesadas, carros de assalto, helicópteros, etc.), ao mesmo tempo que se registava uma inusitada “peregrinação” de oficiais dos SIE e dos Serviços de Inteligência Militar (SIM).
Interpretada por generais guineenses como indício de que Angola poderia interceder para rechaçar um eventual golpe de Estado, a atitude das autoridades angolanas precipitou o pedido de retirada da MISSANG, a que se seguiu a tomada do poder pelos militares.
Ao criar a situação que se vive presentemente na Guiné-Bissau, os militares guineenses fazem-no deliberadamente para impedir a ascensão de “Cadogo” Jr. ao cargo de presidente da República. Nas várias reuniões mantidas com oficiais do SIE e do SIM, em diversas ocasiões, generais das FAG fizeram menção a supostas desconfianças antigas para justificar a sua acção. “Eu sou balanta, este aqui à minha direita é papel e aqueloutros são mandinga e fula. E o Cadogo é o quê?”, questionou uma alta patente numa das muitas reuniões com os angolanos. Coincidência ou não, esta é a principal bandeira desfraldada por Kumba Yalá junto dos seus correligionários e não só. A isso, o “homem do barrete vermelho” acrescenta o facto de que “Cadogo” Jr. não possui nenhum título académico, razão por que não pode ser seu presidente.
Para já, a presente situação expõe dois factos problemáticos para os guineenses e angolanos. Por um lado, mais uma vez se adiam as esperanças dos guineenses quanto à normalização da vida política no país, marcada por sucessivos golpes de estado e assassinatos. Por outro, fica exposto o envolvimento militar de Angola na Guiné-Bissau, a fraqueza da sua componente diplomática e social, a falta de entendimento da realidade do país e as limitações de um poderio bélico sem capacidade para convencer “os corações e as mentes” dos supostos beneficiários da missão de paz.