Manifestantes Libertados, Ameaça de Fuzilamentos

Efectivos da Polícia Nacional detiveram hoje, perto das 14h00, um grupo de dez jovens que tencionava organizar uma vigília diante da presidência da UNITA, na Maianga, em Luanda, para pressionar os partidos políticos da oposição a boicotarem a sua entrada no parlamento.

Adolfo Campos, um dos detidos, explicou que, como argumento para a detenção, “a polícia trouxe um documento forjado, com data de 2011, a dizer que o Governo Provincial de Luanda recusou o nosso pedido de vigília e, por isso, tínhamos de ser levados”.

Após seis horas na 12.ª Esquadra, no município do Cazenga, a Polícia Nacional libertou os jovens Adolfo António, Adolfo Campos, Belo Morete, Hugo Calumbo, Jang Nómada, Luaty Beirão “Brigadeiro Mata Fracos”, Pedro Sebastião “Explosivo Mental”, Pedrowski Teca, Rosa Mendes e Tukayano Rosalino.

“O comandante Eduardo Diogo, da Maianga, comandou a operação. Um dos agentes, que recebia constantemente ordens por telefone, disse-nos que devíamos ser fuzilados”, relatou Hugo Calumbo.

Adolfo Campos explicou que foi detido nas imediações da presidência da UNITA, enquanto caminhava sozinho. “Agora pergunto: como cidadão já não posso sequer circular na rua à vontade? É crime estar a caminhar sozinho?”, questionou-se.

A maioria dos jovens detidos pela Polícia Nacional tem sido os principais animadores das manifestações anti-regime, que visam, fundamentalmente, a demissão do presidente José Eduardo dos Santos, no poder há 33 anos. Com os resultados eleitorais das eleições de 31 de Agosto passado, o presidente tem o caminho aberto para permanecer no poder mais dez anos, até 2022, quando completará 43 anos no poder e 80 anos de vida.

Pelas suas iniciativas anti-Dos Santos, os referidos jovens também têm sido os principais alvos da brutalidade policial e das milícias pró-governamentais, e já foram detidos, espancados e raptados em várias ocasiões, incluindo em Maio passado.

Contrariamente ao habitual, desta vez os manifestantes afirmaram terem sido tratados com dignidade e não terem sido colocados em celas, como inicialmente os agentes exigiam. “Mantiveram-nos numa sala de reuniões e passaram por nós vários investigadores, de vários escalões, que nos queriam interrogar separadamente, mas não tínhamos nada a dizer”, afirmou Hugo Calumbo.

Os efectivos da Polícia Nacional recolheram todos os telefones dos manifestantes e o iPad de Rosa Mendes, processaram a informação e colocaram uma palavra-passe na sua propriedade, segundo denunciaram os detidos. No acto de soltura, os manifestantes receberam os seus haveres. “A polícia bloqueou o meu iPad, não tenho acesso ao mesmo. Disseram-me que me avisariam quando poderiam devolver o iPad”, disse Rosa Mendes.

No entanto, segundo o conhecido advogado David Mendes, pai de Rosa Mendes, os oficiais de serviço na 12.ª Esquadra recusaram-se a assumir a detenção dos jovens: “Disseram-me [os oficiais da PN] que os jovens foram levados de um município para outro apenas para serem informados de que a vigília estava proibida e nada mais”, contou David Mendes.

O gabinete de informação do Comando Provincial da Polícia Nacional em Luanda não retornou as chamadas de Maka Angola para apresentar a sua versão dos factos.

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