Regalias dos Magistrados: Uma Resposta do Tribunal

Conforme divulgado hoje no nosso portal, a veneranda presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gambôa, adquiriu à Annus Mirabilis as mobílias, os acessórios e a decoração mais caros do mundo: para isso, saíram do Cofre Privativo do Tribunal de Contas, da conta domiciliada no Banco Yetu, mil milhões e 426 mil kwanzas.

Importa notar que o Estado dedica apenas, a cada soldado angolano – os principais defensores da pátria – o equivalente a três dólares e 40 cêntimos para três refeições diárias e para a sua higienização individual.

Na resposta ao questionário por nós enviado (ver final deste artigo*) sobre os gastos ora descritos, o Gabinete de Comunicação e Imagem do Tribunal de Contas escusa-se a responder a cada questão concreta, e em vez disso dá uma suposta explicação genérica, dizendo que “as despesas realizadas por este tribunal constam dos relatórios anuais elaborados e aprovados pelo plenário do Tribunal de Contas” e, pasme-se, que “as despesas de capital são realizadas com base nos direitos e regalias dos magistrados”. Custa a crer que os direitos e regalias dos magistrados contemplem todo este desvario e esbanjamento descarado de fortunas retiradas do erário público.

Leia aqui a reposta integral do Tribunal de Contas.

Transcrição do Questionário e da Resposta Integral do Tribunal de Contas

Questionário enviado por nós ao TC:

  1. Nos dias 26 de Março, 30 de Julho e 17 de Dezembro de 2021, o Tribunal de Contas pagou um total de 1,426 mil milhões de kwanzas à empresa Annus Mirabilis Decoração, para aquisição de mobiliário residencial de luxo. Qual é a utilidade de tanto mobiliário residencial de luxo para um tribunal? É justificável essa despesa? Houve concurso público?
  2. A 30 de Julho de 2021, o Tribunal de Contas recorreu à J.A.V., de João Justino António, para a aquisição de mais mobiliário, desta vez no valor de 199 milhões de kwanzas. Para que serviu esse mobiliário? Houve concurso público?
  3. O Tribunal de Contas pagou 212,8 milhões de kwanzas à empresa Sholin Construções Lda., no dia 5 de Agosto de 2021. Confirma que este valor serviu para pagar obras na sua residência no Condomínio Malunga? Houve concurso público para a contratação da Sholin?
  4. Sabemos que o Tribunal de Contas adquiriu residências para os juízes conselheiros no Condomínio Boavida. Há um pagamento, feito pelo tribunal à Urbanização Nova Vida a 10 de Fevereiro de 2021, no valor de 526 milhões de kwanzas. Para que serviu esse pagamento? Houve concurso público?
  5. Como enquadra estes gastos dentro da política de austeridade imposta pelo Fundo Monetário Internacional? Não se sente como um contra-exemplo?
  6. Qual o método utilizado para escolher as empresas / os fornecedores mencionados em 1,2,3 e 4? Houve comparação de preços de mercado?
  7. Tem alguma relação familiar ou de amizade com algum dos responsáveis dessas empresas / desses fornecedores?
  8. Qual a razão para o website do Tribunal não ter qualquer decisão publicada desde que tomou posse? Isso não viola os princípios da transparência a que deve obedecer o funcionamento do Tribunal?

Resposta fornecida pelo TC:

Ao jornalista Rafael Marques

Luanda

Of. N.º 28/GPTC/GCI/22

Os melhores cumprimentos.

Em nome do Tribunal de Contas, serve a presente para acusar a recepção da carta 14 de Junho do corrente ano.

Relativamente às questões colocadas temos a comunicar que as despesas realizadas por este Tribunal constam dos Relatórios Anuais elaborados e aprovados pelo Plenário do Tribunal de Contas, nos termos do previsto na Lei n.º 13/10, de 9 de Julho, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 19/19, de 14 de Agosto. As despesas de capital são realizadas com base nos direitos e regalias dos Magistrados, conforme previsto na Lei n.º 7//94, de 29 de Abril, Estatuto dos Magistrados Judiciais e do Ministério Público.

Cordiais Saudações.

Gabinete de Comunicação e Imagem do Tribunal de Contas

Luanda, aos 16 de Junho de 2022.

O consultor

Gonçalo Leitão”

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