Sonangol, malas noticias

A visita do primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, a Angola é uma boa notícia e situa-se no desenvolvimento do eixo de aprofundamento das relações económicas com os países da Europa ocidental. As más notícias (malas noticias), porém, surgem de onde menos se esperava. Da boca do ministro de Estado angolano da Coordenação Económica, Manuel Júnior. Inopinadamente, o ministro afirmou que “a privatização parcial da empresa Sonangol (…) será feita mais tarde, após processo de saneamento financeiro e de reestruturação”.

Esta notícia é catastrófica e dá o sinal errado aos mercados. Quando Angola necessita de investimento e capital externo, vem-se dizer que, por agora não, talvez mais tarde. Além disso, contradiz o que Sebastião Martins, CEO da Sonangol, tinha afirmado recentemente. Martins fora claro quando, em entrevista ao Diário de Notícias de Portugal, em Janeiro último, afirmara que o plano de reestruturação para a Sonangol cumpriria os objectivos e já se encontrava numa fase de optimização da estrutura. O CEO da Sonangol apresentava uma perspectiva bastante avançada da reestruturação da Sonangol, fazendo prever que, havendo as condições adequadas de mercado, a companhia estava pronta para a sua privatização parcial.

Agora, o ministro Júnior vem atrasar tudo e remeter a privatização parcial da Sonangol para um prazo incerto, dependente de um plano de reestruturação que se julgava em finalização. Não se entende o que se passa.

Sublinhe-se que o que defendemos não é a privatização total, nem maioritária, da Sonangol. É apenas a privatização de 30%, numa experiência-piloto em que o Estado não perderia o controlo. Na verdade, esta privatização parcial faz parte de um plano de reestruturação sustentado da Sonangol. Sem privatização parcial não há reestruturação. A privatização parcial da Sonangol é o que permite a entrada de capital fresco e investidores internacionais que trariam, além de dinheiro, conhecimento e contactos que alavancariam a posição da Sonangol no mercado mundial. Nos tempos turbulentos que se vivem, as empresas têm de se modernizar e investir. Para isso precisam de uma gestão competente e de obter fundos. Esse tem de ser o destino da Sonangol, e não manter-se como coutada de uns poucos.  Não adianta a João Lourenço substituir Isabel dos Santos por outra pessoa qualquer se sua confiança, que tenha como objectivo continuar a ordenhar a empresa até a esgotar, como foi feito ao longo dos anos santistas. Qualquer mudança deve ser integrada num plano mais vasto de modernização, eficiência e abertura da empresa.

Com estas declarações, o ministro Júnior entristeceu todos aqueles que esperavam que o ímpeto reformista na Sonangol se consubstanciasse numa gestão competitiva e eficiente. Só abrindo as “janelas” da Sonangol será possível estruturar a companhia, abandonar os vícios e compadrios do passado. É por isso que é urgente privatizar a Sonangol, desde que – sublinhe-se – as condições de mercado sejam propícias.

Para concluir, não se percebe porque é que o ministro faz estas declarações perante a comitiva espanhola, sabendo que esta vem à procura de novos mercados e oportunidades de investimento. Lógico seria ter convidado os espanhóis a investir, e não fazer declarações de adiamentos.

          “Por todo esto, son malas noticias.”

Comentários