Lunda-Norte: Garimpeiro Morre Baleado na Cabeça

Apesar dos novos tempos que vivemos e dos novos modos de vida impostos pela pandemia da covid-19, parece que algumas coisas continuam a funcionar à “moda antiga”.

A denúncia chegou-nos da Lunda-Norte, a província já aqui descrita por um dos nossos repórteres como “palco de casos de violência sistemática e inconcebível por parte de agentes policiais, militares e forças privadas de segurança”.

Mais um caso, mais uma história, mais um desfecho sangrento.

Fernando Inácio nasceu em Cuango, província da Lunda-Norte. O garimpeiro de 43 anos foi baleado na cabeça alegadamente por um agente da empresa de segurança privada Mosquitos.

Garimpeiro desde sempre, Fernando Inácio, tal como tantos outros cidadãos daquela província, dedicava-se a essa actividade para sustentar a sua família, constituída por sete filhos.

No dia 11 de Abril, um sábado, Fernando saiu de casa para ir trabalhar na zona de 7,7, no bairro Cabundula, cidade de Cafunfo, município do Cuango, província da Lunda-Norte, a mais ou menos 70 metros de sua casa.

Naquele dia, Fernando teria pago 20 mil kwanzas à empresa Mosquitos para que esta permitisse que um grupo de sete garimpeiros seus conhecidos pudesse trabalhar naquela zona (7,7) sob sua alçada. 

Acordo feito, e os garimpeiros começaram a trabalhar.

Sucede que, de um momento para o outro, já no terreno, os agentes da empresa de segurança começaram a fazer exigências adicionais aos garimpeiros. Estes, sem perceberem o que se estava a passar, uma vez que era de seu conhecimento que o acordo entre as partes já tinha sido “celebrado”, comunicaram a situação a Fernando, que tinha feito a negociação.

Fernando, perplexo, dirigiu-se ao garimpo e questionou os agentes da empresa privada sobre o que se estava a passar em concreto. “Porque é que estão a complicar os meus homens se já vos paguei?”, disse. 

Insatisfeitos, os seguranças da Mosquitos reagiram com ameaças a Fernando, não tendo sido alcançado nenhum consenso.

Depois de uma longa troca de palavras, Fernando decide levar o problema ao responsável da empresa privada de segurança. Assim, sem mais delongas, dirigiu-se ao estaleiro onde se encontrava um dos responsáveis da Mosquitos e explicou tudo o que tinha acontecido.

De regresso ao seu bairro, a uma distância de cerca de cinco a seis quilómetros do estaleiro, Fernando Inácio foi surpreendido por um assobio. Olhou para trás e deparou-se com os quatro seguranças com quais discutira no garimpo, os quais o tinha seguido. Mais uma vez, iniciou-se uma troca de palavras com os seguranças, e Fernando e um dos seguranças agrediram-se.

Não tardou que os seguranças sacassem das armas de fogo que tinham em sua posse, ameaçando Fernando de morte.

Quase que de imediato, um dos seguranças, cuja identidade não foi ainda revelada, disparou um tiro fatal contra cabeça de Fernando Inácio.

Neste momento, João Nelson Inácio, irmão mais velho da vítima, e outros familiares apelam ao governo para que impeça a cooperativa – exploradora de diamantes na Zona 7,7, e responsável pela contratação da Mosquitos – de manter actividade, pois consideram-na como “co-autora do assassinato do seu filho”, e exigem que o autor físico do crime seja criminalmente responsabilizado. Exigem, portanto, justiça.

A Cooperativa pertence ao empresário Santos Bikuku, e a respectiva empresa de segurança, a Mosquitos, pertence a um projecto denominado “Agricultura Samuel”, o qual tem fortes ligações com altas patentes locais da Polícia Nacional e detém um centro de formação de segurança privada denominado Samuel A.D.M., localizado a 17 quilómetros da vila mineira de Cafunfo.

O Maka Angola tentou contactar o director da Mosquitos, o sargento “Ngangula”, bem como o director e representante da empresa Cooperativa, José Fernando Muatxiteno, para ouvir a sua versão dos acontecimentos, mas sem sucesso.

* Artigo escrito em colaboração com Jordan Muacabinza, repórter comunitário no Cuango.

Comentários