João Lourenço Acaba com Bairro dos Ministérios

O presidente da República, João Lourenço, enviou-me uma nota de agradecimento pela matéria e os alertas sobre o Bairro dos Ministérios.

De acordo com a mensagem, transmitida pelo seu director de gabinete, Edeltrudes Costa, o presidente ficou sensibilizado com as revelações contidas na minha investigação. João Lourenço garante de forma inequívoca que, na Chicala II, “não haverá mais Bairro dos Ministérios”.

O presidente faz ainda saber que tomará medidas adequadas ao caso nos próximos dias. “Haverá novos desenvolvimentos”, garante.

Este assunto demonstra quão longa é a caminhada de Angola rumo à construção de um Estado voltado para os seus cidadãos e garante da prosperidade e liberdade de todos. É um percurso cheio de armadilhas, falsidades e densas florestas sombrias onde, muitas vezes, não é possível distinguir o amigo do inimigo.

Esta atitude frontal, honesta e determinada do presidente demonstrará a seriedade do seu comprometimento com o caminho do progresso e da justiça em Angola.

Quem pode garantir que não deixaria a vaidade sobrepor-se à realidade? Quem seria capaz de admitir a necessidade de corrigir uma decisão tomada publicamente com pompa e circunstância? Lembremo-nos do filósofo Diógenes de Sínope. Na antiga Atenas, Diógenes percorria as ruas de lanterna em punho anunciando que estava à procura de um homem honesto, tão raros já eles eram então.

João Lourenço tem a coragem e a força de responder ao repto de Diógenes. Pelas suas atitudes, demonstra paulatinamente a sua vontade em colocar Angola no caminho certo e a expor os obstáculos à sua volta.

O MPLA, o seu partido, está tomado pelo vício da corrupção, da pilhagem e do desgoverno. Crescem os actos de sabotagem da agenda presidencial, multiplicam-se as vozes que pretendem colocar o presidente no mesmo saco que os marimbondos arreigados à ideia e à prática de que o país continua a saque.

Colocar o país no caminho certo implica cometer erros e omissões. Faz parte. Todavia, o importante é corrigir rapidamente esses erros e omissões e assim reiterar que há apenas um caminho para Angola: o do Estado de justiça e de progresso.

Somos de opinião – e não nos cansaremos de a manifestar – que todo o cidadão, por mais corrupto ou por pior que tenha feito a Angola e aos angolanos, tem o direito e o dever de seguir o caminho do bem.

João Lourenço — independentemente do seu historial dentro do MPLA e sob o governo do seu antecessor — quer mudanças. Tem entrado em colisão com vários interesses nefários dos seus próprios colegas, para o bem da sociedade.

Poucos reflectem sobre o perigo do regresso, em força, dos marimbondos ao poder caso João Lourenço, com a sua abertura, falhe na missão de mudar o país. O MPLA é a mesma máquina de governo desde 1975.

Devemos incentivar João Lourenço a manter esta postura. A postura de diálogo, audição e decisão baseada num processo deliberativo alargado tenderá a pacificar uma sociedade causticada pela guerra e pelo autoritarismo saqueador.

Recordo-me de como vivi anos sob uma vigilância privada e atroz, por parte de algumas figuras de topo do regime de José Eduardo dos Santos. Para o efeito, estes homens contrataram uma empresa estrangeira e tecnologia de ponta, instalada junto da residência onde vivo. Classificaram-me como inimigo do Estado e devassaram toda a minha intimidade com escutas, rastreios electrónicos e operativos de uma certa inteligência externa. Tudo isso porque eu revelava aos angolanos os seus podres. Recentemente, alguém próximo desse processo persecutório perguntou-me: “Como sobreviveste?”

Agora, em vez de ser perseguido, recebo dessa mesma alta entidade – a Presidência da República, desta vez com um novo inquilino – uma nota de agradecimento por expor a corrupção. Trata-se, na verdade, de uma nota de humildade de João Lourenço e de um convite para que os cidadãos se organizem e o ajudem a mudar Angola, independentemente do passado de cada um, da cor política e dos compromissos pessoais.

Agradeço a todas as testemunhas anónimas que contribuem para enriquecer as investigações do Maka Angola, e agradeço também a todos os leitores que nos acompanham. Mas o agradecimento especial de hoje é para si, Sr. Presidente: obrigado por me ouvir. Bem-haja!

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