Tchizé: Saúde do Presidente Explicada por Neto de Três Anos
Corre nas redes sociais uma gravação de Welwitschea José dos Santos “Tchizé”, em que esta alega que o presidente está muito bem de saúde, gozando a sua vida normal em Barcelona. Para maior eficácia, Tchizé recorre ao seu filho José Eduardo, de três anos, que “nos dá conta” do estado do avô.
Analisemos o testemunho de Tchizé dos Santos, deputada e membro do Comité Central do MPLA, que abaixo transcrevemos na íntegra.
“Oh amigo, essa gente é demais, pá. Então tu já viste, até um bebé de três anos, que é o meu filho José Eduardo, conseguiram, não sei como, fazer crer que o avô estava muito doente e muito mal, porque, portanto o miúdo estava em Londres, não sei como é que, o certo é que vai a Barcelona ver o avô. Quando chega a Barcelona vê o avô sentado a ver o telejornal e a fazer a sua vida normal como sempre, aponta para o avô e disse ‘Olha já viste, olha o vovô ele está bom, não está nada doente.’
Até uma criança de três anos, esses rumores conseguiram afectar. Isso até é triste.”
A primeira questão que o depoimento de Tchizé levanta é o recurso, até à data inédito, a um “bebé” para informar a nação sobre o estado de saúde do presidente. Quer os Serviços de Apoio do Presidente da República, por via do seu porta-voz Manuel Rabelais, quer o Bureau Político do MPLA preferem manter-se de bico calado sobre as verdadeiras razões da ausência de José Eduardo dos Santos, que se encontra fora do país há mais de 15 dias.
O Maka Angola divulgou, em primeira mão, que o presidente foi transportado na noite 1 de Maio passado, em estado saúde preocupante, para a Base Aérea Militar e depois para o exterior do país. Nessa notícia, referimos que acompanharam o presidente a primeira-dama Ana Paula dos Santos, o general Kopelipa, o brigadeiro Kubanza, o seu médico pessoal e mais quatro médicos da Clínica Multiperfil (afecta à Casa de Segurança do PR).
Segunda questão: se o presidente está bem de saúde, como nos diz o neto de três anos, o que faz ele em Barcelona a ver televisão? Angola vive um momento muito grave, com a economia colapsada e a três meses das eleições, pelo que se impõe muito trabalho por parte do presidente.
Terceira questão: Tchizé dos Santos é membro do Comité Central do MPLA e deputada à Assembleia Nacional, um órgão de soberania. Nessa qualidade, poderia ter diligenciado junto do Palácio Presidencial, do Presidente da Assembleia Nacional e do vice-presidente do MPLA e sucessor escolhido pelo pai, João Lourenço, para se assumir como porta-voz ad-hoc e, em conferência de imprensa, esclarecer a sociedade sobre o pai-presidente, informando que este está muito bem de saúde. Ou será que só o menino de três anos viu o avô?
Tchizé dos Santos é muita activa no uso das redes sociais, sobretudo Facebook e Instagram, onde publica regularmente as fotografias das festas que frequenta. Não teria sido mais interessante publicar a foto do pai-presidente com o neto ao colo, a verem juntos o telejornal? Certamente teria acabado com os rumores e conquistado inúmeros seguidores.
Quarta questão: será que o presidente José Eduardo dos Santos é insensível e distante do povo angolano ao ponto de não se preocupar em explicar, de viva voz, que está em Barcelona “a levar a sua vida normal”?
Em Cuba, país que se mantém comunista e totalitário, sempre que havia rumores sobre a morte de Fidel Castro, este fazia-se fotografar com um exemplar do jornal diário Granma, com a data bem visível, de modo a provar que estava vivinho da silva, mesmo aparentando um estado de saúde frágil. Fidel Castro nunca saiu de Cuba para se tratar porque criou no seu país todas as condições de saúde necessárias para que pudesse submeter-se aos serviços médicos nacionais. Foi um ditador que, sem recursos, investiu na saúde e na educação de qualidade para o seu povo.
Quinta questão: supondo que o presidente se encontra bem de saúde e não está de férias, é imperativo que venha a público desfazer os rumores. Pode até continuar “a fazer a sua vida normal” em Barcelona, mas que faça prova de vida. Bastam umas breves palavras à Rádio Nacional de Angola ou à Televisão Pública de Angola, que são órgãos de propaganda do MPLA. Por certo, não falta saldo ao presidente para fazer uma chamada a partir do estrangeiro. Ele que envie também uma foto, em que sorria com a primeira-dama e segure um jornal do dia. Assim, não haverá mais conversa.
Uma moçambicana, ao ouvir o áudio de Tchizé, afirmou simplesmente: “O vosso país é uma comédia.”
A família Dos Santos não pode nem deve continuar a tirar partido do “deixa-andar” e do servilismo dos angolanos. Que uma criança de três anos seja usada para (des)informar sobre o mais importante assunto de Estado do momento – a saúde do presidente – ultrapassa os limites do que podemos aturar. Tudo chega ao fim, até a paciência.