O Pesadelo de Um Bilião de Dólares da Sonangol

As dívidas da Sonangol às grandes companhias petrolíferas excedem largamente os US $300 milhões  devidos à Chevron, reportados em Outubro último, segundo informações a que o Maka Angola teve acesso.

Perante um comunicado em que a Sonangol dava conta de que as dívidas à Chevron seriam submetidas “a análise” antes do pagamento, generalizou-se entre os restantes credores uma crescente ansiedade relativamente aos muitos milhões de dólares que também eles têm a receber.

O Maka Angola tomou conhecimento dos números referentes a cash calls (pedidos de dinheiro) ainda não regularizados junto de três outras grandes petrolíferas com actividade em Angola. Segundo esses números, em Outubro de 2016 a Sonangol devia aos seus credores um bilião de dólares.

Até à data, a Sonangol apenas processou pagamentos a empresas detidas por associados do presidente José Eduardo dos Santos e pela sua filha Isabel dos Santos, actual presidente do conselho de administração da Sonangol.

O presidente demitiu a anterior administração e nomeou a sua filha em Junho passado, uma decisão que chocou a generalidade da indústria do petróleo, tendo em conta o evidente conflito de interesses. Nos meses que entretanto decorreram, a crise na Sonangol agravou-se significativamente, com sérias consequências para toda a economia angolana, muito dependente das receitas do petróleo e dos combustíveis.

Claramente incomodada pelos textos pouco abonatórios do Maka Angola acerca do deplorável estado financeiro da Sonangol, Isabel dos Santos emitiu um comunicado de imprensa justificando os atrasos nos pagamentos com a baixa mundial dos preços do petróleo. Engenhosamente, o conselho de administração sugeriu que os seus procedimentos contabilísticos eram de alguma maneira comprometidos devido à “queda do preço do petróleo” que “implica tempos mais longos de análise e validação de despesas e facturas relativas a custos e investimentos”.

Corroborando inadvertidamente as informações publicadas pelo Maka Angola, o comunicado de imprensa da Sonangol indicava que “já se encontra em fase de análise e processamento o valor de cerca de 300 milhões de dólares americanos referentes ao pagamento de Cash Calls dos meses de Julho, Agosto, Setembro e Outubro de 2016”.

Só a dívida à Chevron ascendeu já a 380 milhões de dólares, o que pressiona a ameaça de accionamento da cláusula do Acordo de Operações Conjuntas que permite à Chevron vender a quota de 40 porcento da Sonangol da produção do Bloco 0, em seu próprio benefício.

O comunicado da Sonangol tinha provavelmente o objectivo de acalmar os ânimos em Angola, mas os seus inverosímeis argumentos causaram ainda maior apreensão nos escritórios de empresas como a BP e a Total, que continuam sem saber quando irão receber os pagamentos da Sonangol.

Fontes próximas da BP revelaram que a Sonangol lhe deve perto de 135 milhões de dólares. A Total tem a receber cerca de 360 milhões de dólares, e a ENI, cerca de 125 milhões. Se a estes valores adicionarmos os 380 milhões devidos à Chevron, obtemos a soma aproximada de um bilião de dólares — uma dívida assombrosa que não inclui os valores deste mês, nem os valores em dívida aos muitos outros parceiros e credores da Sonangol.

Além do mais, no comunicado da Sonangol, datado de Outubro, afirmava-se categoricamente que os problemas financeiros — todos eles atribuídos à queda mundial dos preços do petróleo — não afectariam a capacidade da Sonangol para fornecer combustíveis. Ora, não é esse o caso, uma vez que proliferam casos de escassez de combustíveis em províncias como a Lunda-Norte.

O contraste entre a realidade dos factos e as declarações públicas da Sonangol — onde garante “honrar os seus compromissos”, assim como mantém uma “comunicação transparente” e uma “gestão rigorosa e de excelência” — tem exposto a empresa ao ridículo e provocado sérias preocupações entre os seus parceiros do sector petrolífero.

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