Angola: A Espera da Subida do Preço do Petróleo

Foi grande o alarde acerca da necessidade de diversificação da economia angolana quando o preço do petróleo desceu, colocando a nu a extrema incompetência da ditadura na gestão macro-económica de Angola. Todos os sábios do regime encheram a boca com a dita.

Hoje, alguns meses passados, não se verificou qualquer espécie de diversificação. Pelo contrário, houve uma concentração ainda maior das riquezas do regime nas mãos dos filhos do presidente. Na novilíngua de José Eduardo dos Santos, diversificar é concentrar na família.

Consegue-se perceber qual o pensamento a médio prazo dos gurus económicos da ditadura: o importante é aguentar, porque a dado passo o preço do petróleo vai aumentar. E aumentará, pensam os sábios, por duas razões: porque os países produtores entrarão em acordo para reduzir a produção e porque serão accionados os mecanismos da oferta e da procura. Isabel dos Santos fez um resumo desta posição em entrevista recente à CNBC americana, explicando: “Tem havido menos exploração de petróleo – muitas empresas pararam –, o que significa que, a longo prazo, os stocks de petróleo vão diminuir, por isso vamos ter menos petróleo e os preços vão subir.” É esta a estratégia do regime: segurar o poder com mão firme até o preço do petróleo subir.

Se analisarmos os preços do barril no último ano, veremos que a oscilação foi muito intensa, e que neste momento, depois de baixas acentuadas, voltámos ao nível inicial. Portanto, poder-se-á aceitar que paulatinamente o preço do petróleo volte a subir. É também verdade que a Arábia Saudita, depois de ter experimentado um défice orçamental de 15 por cento do PIB resultante da descida do preço do petróleo que ela própria incentivou, parece pronta a abandonar a estratégia de baixa de preços para afastar concorrência do mercado. Esta notícia foi o bastante para fazer subir o preço do petróleo e confirmar a correcção da estratégia da ditadura.

Contudo, o panorama não é assim tão claro. Poderemos estar perante uma mudança de paradigma no sector do petróleo. Não vale a pena falar da nova tecnologia americana do petróleo de xisto (shale oil) que revolucionou os mercados, mas vale a pena falar da descoberta de dois novos grandes campos de petróleo, um no Texas, outro no Alasca, ambos nos EUA. Tais descobertas, datadas de Setembro de 2016, levaram os analistas a falar de um novo oil glut (superabundância de petróleo). Já se sabe que a superabundância inverte as esperadas restrições de oferta, bem como a subida do preço.

Acresce que a adesão aos objectivos da Conferência de Paris sobre o Clima implica forçosamente o abandono de combustíveis fósseis como o petróleo, a não ser que não se encontrem alternativas tecnológicas válidas. Sobre este ponto, é muito importante o apoio de que goza uma resolução da câmara alta do parlamento alemão (Bundesrat), recomendando que a partir de 2030 não mais sejam comercializados na Alemanha veículos a gasolina ou a gasóleo. Daqui a uns meros 16 anos!

Obviamente, este cenário é ainda incerto (a resolução do Bundesrat precisa de ser ratificada pelo Bundestag e pela UE), mas existe claramente uma mudança de paradigma, a qual desvaloriza o petróleo e promove a sua substituição por energias limpas. De facto, a aposta nos carros eléctricos já se tornou uma realidade política e social.

Comentários