Eurodeputadas Repudiam Condenação Sumária de Nito Alves

A eurodeputada Marisa Matias disse hoje à agência Lusa que condenação do activista angolano Nito Alves, a seis meses de prisão efectiva, é um “excesso” que vai contra o cumprimento dos direitos humanos.

“Não gosto de misturar justiça com política, mas aqui estamos a falar claramente de uma questão de direitos humanos e, tendo em conta aquilo que prevê a lei angolana, há um excesso aplicado a Nito Alves e que não está vinculado ao que prevê a própria lei”, disse à Lusa a eurodeputada do Bloco de Esquerda a propósito da prisão do activista, que se encontra detido na prisão de Viana, em Luanda.

Na segunda-feira passada, Manuel Chivonde Baptista Nito Alves, do grupo de activistas angolanos, em prisão domiciliária, acusados de actos preparatórios de rebelião, foi condenado sumariamente a seis meses de prisão efectiva na cadeia de Viana, Luanda, pelo crime de injúrias aos magistrados.

"Não temo pela minha vida, este julgamento é uma palhaçada", expressou Nito Alves durante a sessão de julgamento do caso dos 15 jovens activistas, em prisão domiciliária, e duas outras rés, que respondem em liberdade às acusações de actos preparatórios de rebelião e de atentado contra o Presidente da República.

Marisa Matias e Ana Gomes, eurodeputada do PS, elaboraram uma resolução sobre o processo dos activistas, que foi aprovada em Setembro de 2015 no Parlamento Europeu, e seguem o julgamento que decorre no Tribunal Provincial de Luanda.

“Vamos continuar a acompanhar. A questão dos direitos humanos não é uma questão de ingerência em matéria de governação de um país. A violação dos direitos humanos é inaceitável seja em que país for e Angola não é excepção”, sublinhou Marisa Matias, acrescentando que também a diplomacia portuguesa deve ter presente o caso.

“Portugal, do ponto de vista das relações diplomáticas e das relações que tem com o país deve considerar a questão dos direitos humanos como uma questão fundamental. Não se trata de ingerência, trata-se de fazer cumprir, no quadro do direito internacional, aquilo que está preconizado assim como aquilo que está preconizado na própria legislação do país”, afirmou ainda Marisa Matias.

Para a eurodeputada Ana Gomes, a condenação sumária de Nito Alves foi uma penalização “absolutamente excessiva, desproporcionada e abusiva” relativamente a um arguido que se encontra em condições que apontou como muito difíceis e que fez um comentário que é partilhado por muita gente: “que, de facto, o julgamento está a ser uma farsa”.

Ana Gomes disse à Lusa que a situação de Nito Alves merece uma atenção particular porque, acrescentou, já por várias vezes o jovem activista foi alvo de violência selectiva e de medidas selectivas que, frisou, não abonam a favor das entidades judiciais e prisionais angolanas.

“Há uma atuação por parte de um responsável judicial que, possivelmente, procura agradar ao poder executivo e que actua de uma forma desproporcionada. Além do mais, já li que o jovem Nito Alves teria sido agredido na cadeia de Viana. Ele, de resto, já identificou o agressor”, afirmou Ana Gomes.

“Trata-se de um incidente que ocorre no quadro de um julgamento que, como foi dito por Nito Alves, parece uma farsa. A Justiça não precisa de o ser, apenas precisa de o parecer, e em Angola não parece Justiça”, acrescentou a eurodeputada socialista.

Na segunda-feira, o juiz Januário Domingos, do Tribunal Provincial de Luanda, além da condenação a prisão efetiva condenou Nito Alves ao pagamento de 50 mil kwanzas de taxa de justiça, por "ofender, depreciar ou tratar pejorativamente o tribunal".

As palavras sobre o julgamento foram proferidas no momento em que era questionado o declarante Fernando Baptista, pai de Nito Alves.

O activista foi detido no mês de junho do ano passado e regressou à cadeia, na semana passada, depois de 51 dias de prisão domiciliária, após a entrada em vigor da nova Lei de Medidas Cautelares em Processo Penal, a 18 de Dezembro de 2015.

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