Seca Causa Fome na Província do Cunene

A Igreja Católica angolana está preocupada com "a grave" seca que afeta a província do Cunene, no sul do país, e diz-se sem meios para acudir às cerca de 20 pessoas que diariamente pedem ajuda.

Em declarações hoje à agência Lusa, o bispo da diocese de Ondjiva, Pio Hipunhati, considerou preocupante a situação que é generalizada a toda a província.

Segundo o bispo, a igreja está sem meios para acudir às "tantas pessoas" que batem por dia à porta da igreja "à procura de alguma coisa para enganar o estômago".

"Isto é generalizado a toda a província, porque no ano passado não houve colheita nenhuma. Toda a província se ressente disto", disse o bispo, acrescentando que a situação afeta mais de metade da população do Cunene, estimada em cerca de um milhão de habitantes, com destaque para o meio rural.

O prelado salientou que além da falta de alimentos, a população vive igualmente o flagelo da falta de água.

"Só para ter noção, só no sábado é que começou a chover. Desde o início da época [chuvosa], que em condições normais deveria ter a acontecido a partir de Outubro. Por cá nem há ainda erva verde, o gado está a morrer, nem havia água para os animais", frisou o bispo.

Pio Hipunhati avançou ainda que as autoridades têm realizado ações de distribuição de água, mas "são coisas localizadas", destacando que este ano não foi distribuída ajuda alimentar.

"A situação é preocupante. Agora se continuar a chover pode ser que o problema da água esteja resolvido, mas no que se refere aos alimentos, só daqui a Abril ou Maio, se a colheita for boa, é que a fome poderá ser minimizada. Nesse momento toda ajuda é bem-vinda", disse o bispo.

Assumiu ainda que todos os dias batem à porta de sua casa pessoas provenientes das aldeias, que procuram os hospitais, mas a igreja não tem como as ajudar.

"O que nós apelamos aos fiéis é a partilha do pouco que se tem, para que de facto ninguém morra à fome, a partilha dentro da solidariedade cristã, mas não temos ajudas de fora. As pessoas vão partilhando o pouco daquilo que têm", lamentou.

Para o bispo é urgente uma atenção especial sobretudo para o interior da província, caso contrário "nem sequer terão sementes para cultivar, porque consumiram as reservas que tinham".

Questionado sobre se há o registo de mortes devido à situação, o bispo disse que não, mas alertou que pode haver por derivação da situação.

"Porque as crianças chegam aqui muito desnutridas, a tuberculose que estava irradiada ultimamente ressurgiu", sustentou.

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