“Não Há Dinheiro para Escolas Mas Há Dinheiro para Espias”

Se o 'rap' é uma expressão musical dos jovens indignados de Luanda, também ontem em Lisboa o poeta 'rapper' Bruce G cantou rimas contra o regime angolano, na manifestação de solidariedade e pela libertação dos 15 presos políticos angolanos.

Bruce G, 30 anos, luso-angolano, “cantou pela liberdade” no final da vigília que juntou centenas de pessoas no Rossio, em Lisboa, em solidariedade com os 15 jovens detidos em Luanda desde junho e acusados de tentativa de golpe de Estado em Angola.

De boné de pala e óculos escuros cantou primeiro um poema 'rap' em que recorda que o próprio pai foi vítima do regime angolano, na sequência do 27 de maio de 1977, em que Nito Alves e José Van-Dúnem foram acusados de tentativa de golpe de Estado em Angola.

A "purga do MPLA", cantou Bruce G, provocou milhares de mortos e um “estado de medo” permanente em Angola.

“Estamos a ser controlados desde os primeiros dias / Não há dinheiro para escolas mas há dinheiro para espias”, cantou o 'rapper' para depois continuar a contar a história dos 15 presos políticos da atualidade, apelando à coragem e à união contra o medo.

“Por isso não vou esconder todo o medo que tenho/ Tenho medo de apanhar e de fazer parte do rebanho / Mas tenho mais medo que um dia os meus filhos vivam em ditadura/Prefiro apanhar eu do que lhes dar vida dura”, diz o poema sincopado de Bruce G.

Sem qualquer instrumento a acompanhar o poema, Bruce G acusa a “manipulação da informação” e a cantar afirma que é um homem livre e “revolucionário”.

“Por isso nem MPLA nem UNITA porque eu não sou partidário/ A minha mente vai mais longe, eu sou revolucionário/ Cá fora a informação é manipulada / falsos perfis no facebook e na net são emboscada”, continua o longo poema de protesto sobre os abusos de direitos humanos em Angola.

“Já não consigo dormir, já não consigo sonhar, enquanto não vos ver / Nem que o último recurso seja o muro pular/ Eu juro pela minha vida vou-vos libertar / A revolução é fértil, por cada um que abordam deste lado são mais cem que acordam”, apela o poema cantado de Bruge G referindo-se aos 15 presos políticos, entre os quais o 'rapper' Luaty Beirão que se encontra em greve de fome há 24 dias.

“Faças o que fizeres, junta-te a nós / Na tua área amplia a nossa voz / Mesmo que queiras jogar este jogo sem estar na linha da frente / agarra no papel e move mais gente/ Jornais, blogs, cartazes e panfletos / Daremos tanta luz ao caso e romperemos o medo/ Quando a injustiça se torna lei rebelião é um dever / Vem-te manifestar e contestar o poder”, termina a canção do poeta luso-angolano.

Bruce G disse que todos os que lutam pelos direitos “são heróis”, mesmo os que não estão presos “como todos os que se juntaram à manifestação” que decorreu hoje na capital portuguesa.

No final, o jovem 'rapper' pediu liberdade para os 15 jovens detidos desde junho em Luanda e desapareceu pelos passeios do Rossio, na baixa de Lisboa.

A concentração de solidariedade que começou defronte do Gabinete do Parlamento Europeu, no Largo Jean Monet, e prosseguiu depois no Rossio, juntou centenas de pessoas, entre as quais representantes da Amnistia Internacional, a irmã de Luaty Beirão, o jornalista e ativista angolano Rafael Marques e ainda os deputados Ribeiro e Castro, do Partido Popular e Isabel Moreira, do PS.

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