Arquitecto da Fome deu Cadeia
Numa sessão de julgamento expedita, a juíza Josefina Pedro absolveu hoje, no Tribunal de Polícia de Luanda, o dirigente do Bloco Democrático Manuel de Vitória Pereira, detido a 19 de Setembro.
Manuel de Vitória Pereira distribuía, na sua zona de residência, um boletim informativo do seu partido, publicado em Julho passado. Foi detido isoladamente enquanto caminhava em direcção contrária ao local de concentração da manifestação, no Largo da Independência, e cerca de três horas antes.
O porta-voz da Polícia Nacional, comissário Aristófanes dos Santos referiu-se à detenção de dirigente do Bloco Democrático, citando-o apenas como “membro da oposição”, como prova de que havia partidos a incitar a manifestação.
No entanto, o agente da Polícia Nacional responsável pela captura confirmou, em Tribunal, que o fez apenas porque encontrou um jovem a patinar nos arredores do Largo da Independência, com um boletim na mão. “Vi a cara do camarada presidente e eu disse, isso é negativo!”, explicou o agente.
De forma acintosa, o Bloco Democrático trata, no seu boletim, o president José Eduardo dos Santos como o ditador da Cidade Alta, num artigo intitulado “JES em monólogo com a juventude”. A foto incriminatória do presidente foi usada durante a campanha eleitoral de 2012, apesar de ter mais de 20 anos. Tinha como slogan: “O arquitecto da paz”. Num trocadilho crítico, o BD alterou o slogan para “O arquitecto da fome”.
No entanto, um agente à paisana já se encontrava ao encalço do politico e foi quem o deteve primeiro. O politico levava consigo um saco com mais de 140 boletins, de quatro páginas em formato A4.
Segundo explicações do réu em tribunal, quando o agente à paisana o abordou, tratou-o como ladrão. Ante a resistência do político, o agente fardado, que depôs em tribunal, juntou-se ao outro a quem identificou como colega e procedeu à sua captura efectiva.
Segundo Luís Nascimento, o advogado de defesa, “poderia ter sido um acto de ignorância do agente. Mas, o problema é que os seus chefes levaram o caso a tribunal. Por isso, foi uma acção premeditada”.
O advogado referiu que “desde 1992 , a polícia é contra a lei, não respeita e é contra a Constituição. Vivemos num estado policial”.