O Novo-Riquismo do General Dino

Por Carlos Duarte:

Enquanto no Hospital Pediátrico de Luanda morrem diariamente dezenas de crianças por falta de medicamentos básicos como soro fisiológico, antipalúdicos e antidiarreicos, alguns angolanos, julgando-se predestinados para a riqueza, zombam desavergonhadamente da desgraça da maioria dos seus concidadãos, principalmente dos pais que perderam os seus filhos.

Foi o que aconteceu no passado dia 6 de Abril, Sexta-Feira Santa, dia em que os cristãos reflectiam sobre a paixão de Cristo. Na noite de véspera, a Direcção de Operações de Voo (DOV) da Sonair mobilizou às pressas uma tripulação para uma viagem a São Paulo (Brasil). Depois de muito negociar com pilotos e assistentes de bordo, relutantes em prestar serviço num dia feriado e para um voo não planificado, a duras penas se conseguiu compor a tripulação para a viagem.

Todo esse esforço não era para transportar um doente em estado grave ou uma delegação governamental mandada às pressas resolver um assunto de Estado inadiável. Os oficiais da DOV da Sonair suaram as estopinhas para que dois passageiros pudessem satisfazer o seu capricho, que emana de uma “riqueza pornográfica”, expressão usada várias vezes pelo líder do Bloco de Esquerda do parlamento português, Francisco Louçã, para caracterizar a forma como a elite política angolana enriqueceu da noite para o dia.

O passageiro era nada mais nada menos do que o general Leopoldino “Dino” Fragoso do Nascimento.

O general Dino embarcou num dos luxuosos aviões executivos Falcon 7X da Sonair (muitas vezes usados pelo PCA da Sonangol) para passar a Páscoa em São Paulo, acompanhado da filha de sete anos. O general é uma das figuras mais próximas do círculo restrito do presidente José Eduardo dos Santos, exercendo actualmente o cargo de conselheiro principal do ministro de Estado e chefe da Casa Militar, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”. Até recentemente, e durante longos anos, foi chefe das Comunicações da Presidência da República. É considerado um dos angolanos mais ricos da actualidade, devido à sociedade que partilha com os ministros de Estado Manuel Vicente e general Kopelipa em negócios de petróleo por via das empresas Nazaki Oil and Gas (Blocos 9 e 21), Dark Oil, o grupo Medianova, no sector da comunicação social, e uma miríade de investimentos em Angola e no exterior do país, resultantes da gestão arbitrária e para proveito pessoal de centenas de milhões de dólares da Sonangol, do Gabinete de Reconstrução Nacional que se encontrava sob tutela da Casa Militar, bem como das linhas de crédito da China. O general Dino Fragoso há anos que também acumula as funções de presidente da Assembleia-Geral da Unitel, na qual é sócio.

O general Dino tem servido, na sua carreira profissional, como militar destacado na Presidência da República, onde os salários são modestos. Não há memória de que o seu finado pai ou a sua família lhe tivessem deixado herança bastante para, nos tempos livres, construir tamanha fortuna.

Mais grave do que isso, no dia do regresso a Luanda e com a tripulação já na aeronave, pronta para a descolagem, dos ilustres passageiros nem a sombra apareceu no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Preocupados com a perda do slot (a vez de descolagem em função da hora solicitada à torre de controlo), um elemento da tripulação telefonou ao general, ao que este respondeu: “Apanhem-me no Rio de Janeiro.” A tripulação teve de alterar o seu plano de voo para recolher o general no Rio de Janeiro, e daí prosseguir viagem para Angola.

Independentemente de quem tenha pago as avultadíssimas despesas do voo e os custos com a hospedagem da tripulação – o avião parqueou três dias no Aeroporto de Congonhas –, a exibição de poder do filho do explicador foi despropositada e despudorada, uma vez que de Luanda para o Brasil há sete voos por semana, sendo dois (às quintas e aos domingos) para o Rio de Janeiro e os restantes para São Paulo.

Para o general Dino Fragoso, a primeira classe já nem sequer serve o seu ego de novo-rico, inchado por uma fortuna que terá, a seu tempo, de explicar aos angolanos.

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