Ordens Superiores contra MCK dá Origem a Teledisco no Brasil

MCK e o brasileiro Vinicius Terra produzirão um teledisco inspirado na interdição imposta, terça-feira, pelas autoridades angolanas ao rapper angolano, disse hoje à Lusa o organizador do festival Terra do Rap.

“Estamos os dois preparar um 'rap'. Vamos fazer um trabalho a tempo inteiro de criação, mistura e de filmagens para um 'vídeo-clip' aqui no Rio de Janeiro. Além dos factos que ocorreram ao MCK a ideia é também a valorização dessa África silenciosa e silenciada perante ações ditactoriais. O nome provisório do 'rap' é ‘Guetos da Guiné-Bissau’”, disse à Lusa Vinicius Terra, organizador do festival de rap que terminou na quinta-feira à noite, no Rio de Janeiro.

Na terça-feira, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, MCK e um acompanhante foram impedidos de “forma arbitrária” de embarcar no voo entre Luanda e o Rio de Janeiro.

No aeroporto, dois “oficiais que não se identificaram” disseram a MCK que havia um “impedimento por ordens superiores” que não o permitia embarcar.

O 'rapper' angolano acabou por viajar para o Brasil na quinta-feira de manhã sem que tenha sido informado sobre o “impedimento” ocorrido dois dias antes.

O músico acabou por atuar na data inicialmente prevista tornando-se, segundo a organização, num “dos pontos altos” do festival do Rio de Janeiro.

“Foi comovente porque o concerto acabou por tomar uma conotação política – que não estava prevista – por causa dos acontecimentos. Com o apoio da Amnistia Internacional Brasil, preparamos placas com os rostos dos presos políticos de Angola, como cenário do palco. O público presente na noite de ontem (quinta-feira) estava muito consciente sobre o que se está passando com os angolanos”, acrescentou Vinicius Terra.

“Começa a ter-se noção do que se está a passar em Angola. O Brasil estava muito alheado de todas essas questões sobre Angola, sobretudo aqui no Rio de Janeiro. As notícias sobre os presos políticos tiveram repercussão mundial com o caso da greve de fome de Luaty Beirão e a questão tornou-se ainda mais mediática depois do que aconteceu com o MCK”, disse ainda o organizador do festival.

Entretanto, MCK que deve regressar a Luanda na próxima semana, constituiu um advogado que apresentou uma carta de reclamação ao Serviço de Migração e Estrangeiros referindo que a “interdição” verificada na terça-feira não teve qualquer sustentação jurídico-legal.

O 'rapper' MCK, de 34 anos, formado em Filosofia, é autor de poemas que contestam o regime angolano e do álbum “É Proibido Ouvir Isto” tendo recentemente actuado em defesa dos activistas políticos, detidos desde Junho, e que estão a ser julgados em Luanda, acusados do crime de rebelião.

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