Liberdade de Expressão e Crença no Poder da Solidariedade

Um prémio traz consigo uma maior responsabilidade. É por isso um privilégio receber este prémio de jornalismo (do Index on Censorship), que dedico aos meus companheiros etíopes Eskinder Nega, Reeyot Alemo, e aos Zone 9 Bloggers. Todos eles estão presos, cumprindo actualmente das mais duras penas em África, pelo crime de exercerem o seu direito à liberdade de expressão.

A Etiópia é o país onde está sedeada a União Africana, e o seu governo é um dos que mais têm obstaculizado à defesa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão. Quando um poder em África consegue, impunemente, esmagar os direitos dos seus cidadãos, ao mesmo tempo que goza de enorme prestígio e legitimidade internacionais, torna-se um manual de instruções para outros regimes autoritários.

Acredito no poder da solidariedade. Eu próprio já passei por situações difíceis. Foi a solidariedade dos outros que me ajudou a fortalecer a minha audácia e que me fez decidir continuar na minha luta.

Em 1996, encontrava-me eu em Londres, horrorizado diante da censura contra a imprensa em Angola, decidi chamar a atenção internacional para o assunto. Como não sabia falar inglês, recorri desajeitadamente a um directório de organizações, e encontrei a Index on Censorship. Telefonei para essa organização e marquei uma reunião para falar sobre África. Os meus argumentos eram extremamente convincentes e concisos: «Censura em Angola má. Dos Santos [o presidente] mau. Muito mau!» Alguns meses mais tarde, um artigo meu foi traduzido e publicado na revista da Index. Esse artigo foi divulgado noutras publicações, em vários países.

Quando esta viagem terminar e eu regressar a Angola, irei a tribunal, no dia 24 de Março próximo, como arguido em nove acusações distintas de denúncia caluniosa imputadas à minha pessoa por sete poderosos generais e seus comparsas de negócios. Escrevi um livro no qual relatei violações sistemáticas dos direitos humanos na indústria diamantífera. Os queixosos neste processo são grandes accionistas de empresas diamantíferas, e as empresas de segurança privada sob sua alçada levaram a cabo muitas das violações que denuncio.

É uma honra e um orgulho enfrentar um tal imenso poder e criar a oportunidade para que muitas das vítimas se expressem através dos relatórios que tenho vindo a elaborar ao longo dos últimos dez anos. Sairei mais resiliente deste julgamento, e fortalecido pela experiência.

Muito obrigado por este extraordinário momento.
 

*Londres, 18 de Março de 2015

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